domingo, 11 de abril de 2010

Milho de pipoca


Milho de pipoca

Extraído do livro "O amor que acende a lua" de Rubem Alves

“Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho para sempre”

Assim acontece com a gente.

As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo.

Quem não passa pelo fogo, fica do mesmo jeito a vida inteira.

São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosa.

Só que elas não percebem e acham que seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.
Mas, de repente, vem o fogo.

O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos: a dor.
Pode ser fogo de fora:

perder um amor, perder um filho, o pai, a mãe, perder o emprego ou ficar pobre.
Pode ser fogo de dentro:

pânico, medo, ansiedade, depressão ou ofrimento, cujas causas ignoramos.
Há sempre o recurso do remédio: apagar o fogo!

Sem fogo o sofrimento diminui. Com isso, a possibilidade da grande transformação também.

Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela,
lá dentro cada vez mais quente, pensa que sua hora chegou:
vai morrer.

Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma,
ela não pode imaginar um destino diferente para si.

Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada para ela.
A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz.

Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo a grande transformação acontece:
BUM!

E ela aparece como uma outra coisa completamente diferente,
algo que ela mesma nunca havia sonhado.

Bom, mas ainda temos o piruá, que é o milho de pipoca que se recusa a estourar.
São como aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar.
Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem.
A presunção e o medo são a dura casca do milho que não estoura.

No entanto, o destino delas é triste, já que ficarão duras a vida inteira.
Não vão se transformar na flor branca, macia e nutritiva.

Não vão dar alegria para ninguém.

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