sábado, 25 de outubro de 2008

Almeida: A obra de uma vida


Almeida: A obra de uma vida

João Ferreira de Almeida, conhecido pela autoria de uma das mais lidas traduções da Bíblia em português, ele teve uma vida movimentada e morreu sem terminar a tarefa que abraçou ainda muito jovem. Entre a grande maioria dos evangélicos do Brasil, o nome de João Ferreira de Almeida está intimamente ligado às Escrituras Sagradas. Afinal, é ele o autor (ainda que não o único) da tradução da Bíblia mais usada e apreciada pelos protestantes brasileiros. Disponível aqui em duas versões publicadas pela Sociedade Bíblica do Brasil - a Edição Revista e Corrigida e a Edição Revista e Atualizada - a tradução de Almeida é a preferida de mais de 60% dos leitores evangélicos das Escrituras no País, segundo pesquisa promovida por A Bíblia no Brasil.

Se a obra é largamente conhecida, o mesmo não se pode dizer a respeito do autor. Pouco, ou quase nada, se tem falado a respeito deste português da cidade de Torres de Tavares, que morreu há 300 anos na Batávia (atual ilha de Java, Indonésia). O que se conhece hoje da vida de Almeida está registrado na "Dedicatória" de um de seus livros e nas atas dos presbitérios de Igrejas Reformadas do Sudeste da Ásia, para as quais trabalhou como pastor, missionário e tradutor, durante a segunda metade do século XVII.

De acordo com esses registros, em 1642, aos 14 anos, João Ferreira de Almeida teria deixado Portugal para viver em Málaca (Malásia). Ele havia ingressado no protestantismo, vindo do catolicismo, e transferia-se com o objetivo de trabalhar na Igreja Reformada Holandesa local. Dois anos depois, começou a traduzir para o português, por iniciativa própria, parte dos Evangelhos e das Cartas do Novo Testamento em espanhol. Além da Versão Espanhola, Almeida usou como fontes nessa tradução as Versões Latina (de Beza), Francesa e Italiana - todas elas traduzidas do grego e do hebraico. Terminada em 1645, essa tradução de Almeida não foi publicada. Mas o tradutor fez cópias à mão do trabalho, as quais foram mandadas para as congregações de Málaca, Batávia e Ceilão (hoje Sri Lanka). Mais tarde, Almeida tornou-se membro do Presbitério de Málaca, depois de escolhido como capelão e diácono daquela congregação.

No tempo de Almeida, um tradutor para a língua portuguesa era muito útil para as igrejas daquela região. Além de o português ser o idioma comumente usado nas congregações, era o mais falado em muitas partes da Índia e do Sudeste da Ásia. Acredita-se, no entanto, que o português empregado por Almeida tanto em pregações como na tradução da Bíblia fosse bastante erudito e, portanto, difícil de entender para a maioria da população. Essa impressão é reforçada por uma declaração dada por ele na Batávia, quando se propôs a traduzir alguns sermões, segundo palavras, "para a língua portuguesa adulterada, conhecida desta congregação."

O tradutor permaneceu em Málaca até 1651, quando se transferiu para o Presbitério da Batávia, na cidade de Djacarta. Lá, foi aceito mais uma vez como capelão, começou a estudar teologia e, durante os três anos seguintes, trabalhou na revisão da tradução das partes do Novo Testamento feita anteriormente. Depois de passar por um exame preparatório e de ter sido aceito como candidato ao pastorado, Almeida acumulou novas tarefas: dava aulas de português a pastores, traduzia livros e ensinava catecismo a professores de escolas primárias. Em 1656, ordenado pastor, foi indicado para o Presbitério do Ceilão, para onde seguiu com um colega, chamado Baldaeus.

Ao que tudo indica, esse foi o período mais agitado da vida do tradutor. Durante o pastorado em Galle (Sul do Ceilão), Almeida assumiu uma posição tão forte contra o que ele chamava de "superstições papistas," que o governo local resolveu apresentar uma queixa a seu respeito ao governo de Batávia (provavelmente por volta de 1657). Entre 1658 e 1661, época em que foi pastor em Colombo, ele voltou a enfrentar problemas com o governo, o qual tentou, sem sucesso, impedi-lo de pregar em português. O motivo dessa medida não é conhecido, mas supõe-se que estivesse novamente relacionado com as idéias fortemente anti-católicas do tradutor.

A passagem de Almeida por Tuticorin (Sul da Índia), onde foi pastor por cerca de um ano, também parece não ter sido das mais tranqüilas. Tribos da região negaram-se a ser batizadas ou ter seus casamentos abençoados por ele. De acordo com seu amigo Baldaeus, o fato aconteceu porque a Inquisição havia ordenado que um retrato de Almeida fosse queimado numa praça pública em Goa.

Foi também durante a estada no Ceilão que, provavelmente, o tradutor conheceu sua mulher e casou -se. Vinda do catolicismo romano para o protestantismo, como ele, chamava-se Lucretia Valcoa de Lemmes (ou Lucrecia de Lamos). Um acontecimento curioso marcou o começo de vida do casal: numa viagem através do Ceilão, Almeida e Dona Lucretia foram atacados por um elefante e escaparam por pouco da morte. Mais tarde, a família completou-se, com o nascimento de um menino e de uma menina.

A partir de 1663 (dos 35 anos de idade em diante, portanto), Almeida trabalhou na congregação de fala portuguesa da Batávia, onde ficou até o final da vida. Nesta nova fase, teve uma intensa atividade como pastor. Os registros a esse respeito mostram muito de suas idéias e personalidade. Entre outras coisas, Almeida conseguiu convencer o presbitério de que a congregação que dirigia deveria ter a sua própria cerimônia da Ceia do Senhor. Em outras ocasiões, propôs que os pobres que recebessem ajuda em dinheiro da igreja tivessem a obrigação de freqüentá-la e de ir às aulas de catecismo. Também se ofereceu para visitar os escravos da Companhia das Índias nos bairros em que moravam, para lhes dar aulas de religião - sugestão que não foi aceita pelo presbitério - e, com muita freqüência, alertava a congregação a respeito das "influências papistas."

Ao mesmo tempo, retomou o trabalho de tradução da Bíblia, iniciado na juventude. Foi somente então que passou a dominar a língua holandesa e a estudar grego e hebraico. Em 1676, Almeida comunicou ao presbitério que o Novo Testamento estava pronto. Aí começou a batalha do tradutor para ver o texto publicado - ele sabia que o presbitério não recomendaria a impressão do trabalho sem que fosse aprovado por revisores indicados pelo próprio presbitério. E também que, sem essa recomendação, não conseguiria outras permissões indispensáveis para que o fato se concretizasse: a do Governo da Batávia e a da Companhia das Índias Orientais, na Holanda.

Escolhidos os revisores, o trabalho começou e foi sendo desenvolvido vagarosamente. Quatro anos depois, irritado com a demora, Almeida resolveu não esperar mais - mandou o manuscrito para a Holanda por conta própria, para ser impresso lá. Mas o presbitério conseguiu parar o processo, e a impressão foi interrompida. Passados alguns meses, depois de algumas discussões e brigas, quando o tradutor parecia estar quase desistindo de apressar a publicação de seu texto, cartas vindas da Holanda trouxeram a notícia de que o manuscrito havia sido revisado e estava sendo impresso naquele país.

Em 1681, a primeira edição do Novo Testamento de Almeida finalmente saiu da gráfica. Um ano depois, ela chegou à Batávia, mas apresentava erros de tradução e revisão. O fato foi comunicado às autoridades da Holanda e todos os exemplares que ainda não haviam saído de lá foram destruídos, por ordem da Companhia das Índias Orientais. As autoridades Holandesas determinaram que se fizesse o mesmo com os volumes que já estavam na Batávia. Pediram também que se começasse, o mais rápido possível, uma nova e cuidadosa revisão do texto.

Apesar das ordens recebidas da Holanda, nem todos os exemplares recebidos na Batávia foram destruídos. Alguns deles foram corrigidos à mão e enviados às congregações da região (um desses volumes pode ser visto hoje no Museu Britânico, em Londres). O trabalho de revisão e correção do Novo Testamento foi iniciado e demorou dez longos anos para ser terminado. Somente após a morte de Almeida, em 1693, é que essa segunda versão foi impressa, na própria Batávia, e distribuída.

Enquanto progredia a revisão do Novo Testamento, Almeida começou a trabalhar com o Antigo Testamento. Em 1683, ele completou a tradução do Pentateuco (os cinco primeiros livros do Antigo Testamento). Iniciou-se, então, a revisão desse texto, e a situação que havia acontecido na época da revisão do Novo Testamento, com muita demora e discussão, acabou se repetindo. Já com a saúde prejudicada - pelo menos desde 1670, segundo os registros—, Almeida teve sua carga de trabalho na congregação diminuída e pôde dedicar mais tempo à tradução. Mesmo assim, não conseguiu acabar a obra à qual havia dedicado a vida inteira. Em 1691, no mês de outubro, Almeida morreu. Nessa ocasião, ele havia chegado até Ez 48.21. A tradução do Antigo Testamento foi completada em 1694 por Jacobus op den Akker, pastor holandês. Depois de passar por muitas mudanças, ela foi impressa na Batávia, em dois volumes: o primeiro em 1748 e o segundo, em 1753.

A Bíblia no Brasil, n. 160, 1992, p. 14
Fonte: BOL- Bíblia on-line /SBB
http://www.vivos. com.br/185. htm

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Quando a Igreja se Torna Como o Mundo


Quando a Igreja se Torna Como o Mundo
Pr. Wilson Franklim

Estamos vivendo uma época em que o mundo passou a avaliar tudo apenas pelo resultado. É filosofia do pragmatismo. O que é pragmatismo? O pragmatismo é muito semelhante ao utilitarismo. É a crença de que os resultados, e/ou utilidade, estabelece o padrão para aquilo que é bom. Para um pragmatista/utilitarista se uma técnica, ou mesmo um método produz o resultado desejado, a utilização de tal recurso é válida.

Afinal de contas, o que há de errado com o pragmatismo, uma vez que até o bom senso tem uma dose de pragmatismo legitimo? Se um remédio não produz o efeito esperado, procura-se o médico e solicita-se outro medicamento que funcione. Quando entramos em nosso quarto e acionamos o interruptor, e a lâmpada não acende, trocamos a lâmpada. Se a nova lâmpada acende, é razoável supor que o problema estava na lâmpada "queimada". Portanto, realidades pragmáticas simples como essas por is mesmas são óbvias.

1. O Problema
Quando, porém, se USA o pragmatismo para estabelecer juízos acerca do certo e do errado, ou quando se faz dele uma filosofia de vida, que passa a dirigir a teologia, ou do ministério, haverá inevitavelmente um choque desastroso com as Sagradas Escrituras. Veja porque:

As realidades bíblicas e espirituais não são determinadas tomando-se como base o que funciona, o que não funciona. Observe que, em I Co 1.22,23; e 2.14, Paulo nos alerta que nem sempre o Evangelho produz uma resposta positiva. Por outro lado, as heresias e o engano satânico podem ser bastante eficazes (Mt 24.23,24; 2Co 4.3,4). Jesus também alerta que a reação da maioria nem sempre pode ser usada como parâmetro seguro para determinar o que é válido. Outro aspecto igualmente importante é que a prosperidade não serve para constatar a veracidade (Jó 12.6).

De uma maneira sutil, em vez uma vida regenerada, é a aceitação por parte do mundo e a quantidade de pessoas presentes nos cultos que vem se tornando o alvo maior das igrejas contemporâneas. Pregar a Palavra e confrontar o pecado com ousadia são vistos como coisas antiquadas, meios ineficazes de alcançar o mundo para Cristo. Essa maneira de pensar distorce por completo a missão da igreja, porque a Grande comissão não é um manifesto de marketing. O evangelismo não precisa de vendedores, e, sim profetas. A semente que produz o novo nascimento é a Palavra de Deus (I Pe 1.23).

2. Os Efeitos do Pragmatismo Entre Nós
2.1. Mudança de culto de Teocêntrico para Antropocêntrico
Um dos sinais mais visíveis do pragmatismo na área evangélica são as mudanças convulsivas que, nas últimas décadas, tem "revolucionado" o culto nas igrejas. Onde a filosofia passou a ser planejar e realizar cultos dominicais que sejam mais divertidos do que reverentes. Mais show do que adoração. O resultado é culto mais centrado na pessoa humana (antropocêntrico), do que centrado na pessoa de Deus (teocêntrico). O mais grave é que a teologia é forçada a ceder o lugar de honra à metodologia. Vejam o que escreveu Elmer l. Towns: "antigamente a declaração de fé representava a razão de ser de uma denominação. Hoje, a metodologia é o vínculo que mantém as igrejas unidas. Uma declaração ministerial define a igreja e sua própria existência ministerial" . Observem a sutileza desta afirmação, ele diz entre linhas, escancaradamente, que Deus, Jesus e o Espírito Santo e a sua Santa revelação deixaram de ser o vínculo de união entre as igrejas. Por incrível que pareça muitos acreditam que essa idéia é um avanço para igreja atual. Alguns pastores chegam a afirmar que a igreja dos nossos dias precisa de algo mais do que as quatro prioridades apresentadas no livro de Atos - A doutrina dos apóstolos, a comunhão, o partir do pão e as orações (At 2.42).

2.2. Surgimento de Novas Metodologias
Encantados na onda do "resultado", de encher rapidamente as igrejas, muitos líderes embarcaram numa verdadeira corrida aos mais variadas metodologias de "crescimento". Livros dos mais variados foram escritos, uns incentivando o marketing , outros a auto-ajuda, outros entretenimento e muito mais. O resultado é que a recreação, o entretenimento, e mesmo a música, de forma perspicaz, passaram a apagar o verdadeiro culto e a comunhão dominical. Irmãos, não podemos colocar nossa confiança em métodos e fórmulas. Nossa confiança deve estar no Todo Poderoso. Mas, há um detalhe muito especial: é preciso ter vida espiritual, é preciso haver dedicação, é preciso ter o caráter de Jesus. É obvio que a espiritualidade tem um custo.

Por outro lado, com as fórmulas e métodos não é preciso ser espiritual, não é preciso gastar tempo recebendo a mensagem de Deus, não é preciso ter uma vida devocional, basta seguir as fórmulas de marketing, agradar ao povo, Dar um show nos púlpitos...

Nesse embalo, novos e bonitos nomes tais como: "celebração", "gospel", "nova unção", "renovação", foram inseridos em nosso linguajar, para justificar "novos tempos". A pregação é encarada como antiquada principalmente a pregação expositiva. "Ninguém se preocupa em verificar se o que está sendo pregado é verdadeiro ou falso. Um sermão é um sermão, não importa o assunto; só que quanto mais curto melhor" . Já faz mais de cem anos que Spurgeon proclamou essas palavras, mas infelizmente elas ainda continuam atuais para os nossos dias.

3. Será Que Toda Inovação é Errada?
Não é à inovação em si que me oponho. Tenho consciência de que os estilos de adoração estão em constantes mudanças. Se Spurgeon chegasse à nossa igreja hoje, ele não gostaria de nosso órgão, de nossa orquestra. Não sou preso a esse ou aquele estilo de música ou liturgia. Na realidade sou contra a estagnação das igrejas. Também não alimento nenhuma intenção de fabricar normas arbitrárias a fim de dizer o que é aceitável ou não nos cultos. Todavia, meu embate é contra a filosofia que relega Deus e a sua Palavra um papel secundário na igreja. Discordo daqueles que acreditam que técnicas e métodos humanos podem resgatar almas para os céus com mais eficiência do que o Deus Todo Poderoso. Nessa altura, as palavras de MacArthur merecem uma especial atenção: "Se existe algo que a história nos ensina, este ensino é que os ataques mais devastadores desfechados contra a fé sempre começaram com erros sutis surgidos dentro da própria igreja".

Conclusão
O pragmatismo como filosofia norteadora do ministério é defeituoso e desleal para com a igreja de Jesus Cristo. Como prova de veracidade, chega mesmo a ser satânico, porque atende aos objetivos do maligno de afastar o crente da realidade da Palavra de Deus, de que as Escrituras são uma questão de vida e não apenas de crença.

Qual o tipo de ministério que agrada a Deus? "Prega a Palavra" (II Tm 4.2). O centro de nossos ministérios deve ser a obediência a esse simples mandamento. A tarefa do pregador é proclamar as Escrituras (Rm 10.14; Ne 8.8). Não há outra fórmula, pregar é o compromisso maior de nosso chamado. Se, não atendermos com urgência a essa vocação, nossos ministérios serão puxados para o declínio, e nos veremos em busca do pragmatismo, aplicando na igreja os padrões do mundo.

Nos dias atuais é importante que "a teologia mantenha o diálogo com as demais ciências, sem jamais perder seu elemento máximo: a fé nas sagradas Escrituras" . Por outro lado, a falta de temor a Deus, que tem caracterizado a presente geração de adoradores, tem produzido uma adoração sem qualquer senso de reverência ao Adorado.

Minha oração é que este artigo instigue nossa forma de pensar, conduzindo-nos à Palavra de Deus, "para ver se as coisas" são "de fato assim" (At 17.11).

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

As Escrituras EXIGEM Estrito Biblicismo [Fundamentalismo]


As Escrituras EXIGEM Estrito Biblicismo [Fundamentalismo]

David Cloud

Através dos anos, muitos têm escrito para brigarem comigo porque eu acredito que fundamentalismo (ou seja, um inflexível alinhamento com a Bíblia, qualquer que seja o Nome pelo qual seja chamado) é uma parte necessária do cristianismo escriturístico. Else alegam que eu julgo tudo na base do meu próprio "fundamentalismo", e que eu rejeito qualquer coisa que dele difere. [Nota da Tradutora: "inflexível alinhamento com a Bíblia significa: primeiro, tomar a Bíblia pelo que ela diz, diz literalmente (claro que observando contexto e dispensação); segundo, crê-la sempre e perfeitamente; terceiro, esforçar-se para obedecer a ela com todas as nossas forças. Tudo isto em todos os assuntos da vida]

Ao mesmo tempo em que eu acredito que o fundamentalismo (no sentido de inflexível alinhamento com a Bíblia, em tudo) é uma parte necessária do cristianismo escriturístico, eu não julgo as coisas na base do meu fundamentalismo ou do fundamentalismo de qualquer outra pessoa. Minha única autoridade para a fé e a prática é a Bíblia, não o fundamentalismo ou o batistismo ou o batistismo independente ou o batistismo fundamentalista ou qualquer outro sistema feito pelo homem.

Eu compreendo que é muito difícil (se não próximo de impossível) nos livrarmos de todas as nossas preconcepções quando estudamos a Bíblia. Mas, Deus sendo minha testemunha, meu objetivo, desde que eu fui convertido, tem sido tomar as Escrituras como meu único guia e minha única autoridade, e testar tudo por elas, e a elas conformar tanto a mim mesmo, como a minha doutrina, e como o meu ministério.

Quando eu fui salvo em 1973, na idade 23 anos, eu não sabia coisa nenhuma sobre o fundamentalismo.

Eu fui conduzido a Cristo por um piedoso irmão da linha Pentecostal antiga, o qual eu encontrei ao perambular pelo mundo. Naqueles dias eu era um jovem que havia abandonado o lar e vagabundeava pelo mundo, e obtinha meu sustento às vezes vendendo drogas. Eu tinha pegado caronas para for a a Califórnia não muito tempo antes que me encontrei com o homem que me conduziu a Cristo. Eu viajei de carona com aquele crente por quatro ou cinco dias, eu não recordo exatamente por quanto tempo, mas o suficiente para viajarmos desde próximo de Hollywood, na Flórida, até o México, cruzando a fronteira em Brownsville, Texas, e então viajarmos de Volta até Daytona Beach, novamente na Flórida. Durante toda a viajem ele educadamente argumentou comigo a partir das Escrituras e, a um certo ponto do caminho, nós paramos em uma livraria evangélica e ele comprou para mim uma Bíblia do Rei Tiago (King James Bible) sem nenhuma nota ou comentário. No tempo em que eu me encontrei com aquele crente, eu era um membro da Sociedade do Comunhão da Auto-Realização e meu guru Hindu era Paramahansa Yogananda. Eu acreditava na reencarnação e na meditação como o caminho para o iluminamento. O irmão Pentecostal explicou-me continuamente que a Bíblia é a palavra infalível de Deus para o homem, e que somente ela era a Autoridade divina para as nossas vidas. Ele calorosamente incitou-me a receber Cristo e fazer da Bíblia o livro de minha vida, e eu dei o primeiro passo nessa estrada real quando eu me arrependi e cri e rendi minha vida a Jesus Cristo, em um quarto de hotel em Daytona Beach, Flórida, na última noite em que eu e aquele crente estivemos juntos nessa viagem memorável.

No dia seguinte ele seguiu seu caminho e eu fui em um sentido diferente, e eu nunca mais o vi outra vez. Eu dirigi-me à minha cidade natal para fazer corrigir minha vida para com meu papai, contra quem eu tinha estado em rebelião já por muitos anos.

Nesse ponto eu sabia que eu estava Indo seguir Jesus para sempre, e eu compreendi que eu necessitava encontrar uma igreja realmente boa [bíblica, de acordo com a Bíblia], mas eu não sabia aonde ir. Eu sabia a respeito de igrejas Batistas da Convenção do Sul, mas eu não tive nenhuma inclinação para voltar a elas, uma vez que eu tinha crescido nelas e lá, no general, eu não tinha visto o poder do Deus e o zelo para com a Palavra de Deus que eu tinha visto no homem que me conduziu a Cristo. Eu visitei algumas igrejas e reuniões tanto Pentecostais como Carismáticas. Eu visitei vários outros tipos das igrejas. Eu escutei muitos pregadores diferentes no rádio, inclusive Herbert W. Armstrong, e até mesmo encomendei e recebi, pelo correio, alguns de seus materiais. Eu estudei alguns livros de Adventistas do Sétimo-dia.

Embora eu estivesse confuso sobre igrejas e não estivesse seguro sobre para que lado me voltar, eu sabia que a Bíblia tem muito a dizer sobre a [nossa necessidade de sermos membros de uma boa e bíblica] igreja, e eu desejava gozar comunhão cristã; assim eu ardente e honestamente procurei a vontade de Deus neste assunto. Eu tinha as seguintes duas promessas das Escrituras, e eu me agarrei, me colei a elas:

"Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus, ou se eu falo de mim mesmo." (Jo 7:17)

"31 ¶ Jesus dizia, pois, aos judeus que criam nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos; 32 E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará." (Jo 8:31-32)

Jo 7:17 diz que eu posso saber a verdade se eu estiver disposto a fazer a vontade de Deus. Jo 8:31-32 diz que eu posso saber a verdade se eu continuar na Palavra de Deus. Desejando seriamente saber a verdade e nunca mais ser iludido outra vez, eu me agarrei a estas promessas. Eu orei continuamente para que Deus me ajudasse a ser obediente a tudo que eu encontrasse nas Escrituras, de modo que eu pudesse ser conduzido a mais verdades. Eu orei frequentemente, "Deus, eu sei que meu coração é enganoso; se em alguma matéria eu estiver sendo inconscientemente teimoso contra a tua vontade, mostra-me isto, por favor, e faz-me desejoso de Te obedecer."

Compreendendo que eu tinha que continuar [e continuar crescendo] na Palavra de Deus, eu comecei a diligentemente procurar [estudar] na Bíblia, horas e horas a fio a cada dia, lendo-a e estudando-a e memorizando-a. Eu provavelmente li toda a Bíblia, de capa a capa, uma cinco ou seis vezes, nos primeiros dois anos. Eu escrevi [num caderno] tudo que eu estava aprendendo e criei meu próprio guia tópico de estudos, organizando as Escrituras sob títulos de acordo com assuntos. Eu olhei [no dicionário grego-inglês, dicionário inglês-inglês, e dicionário bíblico] cada palavra que eu não compreendi. Eu usei a Concordância Exaustiva de Strong e outras ferramentas para pesquisar dúzias de palavras da Bíblia, a cada dia. (Após 20 anos, estes estudos resultaram na publicação da Way of Life Encyclopedia of the Bible & Christianity)

Para um par dos meses eu vagueei através do labirinto de igrejas, visitando vários tipos delas e orando que Deus me iluminasse [na escolha da igreja mais bíblica ainda existente]. A primeira igreja que o Senhor me conduziu para juntar-me a ela foi a Igreja Batista Bartow, em Bartow, Flórida. Ela foi plantada pela família de Gerald Hoovner, que tinha saído da Primeira Igreja Batista (a proeminente congregação da Convenção Batista do Sul naquela cidade) com o desejo de voltar suas costas à contemporização e mornidão e mundanismo, e de ser sério sobre as Escrituras. Deus os tinha abençoado e havia um número de jovens que tinham sido salvos e estavam crescendo no Senhor. Um por um destes estava saindo para estudar em alguma Faculdade Bíblica e estava entrando no serviço do Senhor em vários campos. Eu soube que este era o lugar onde Deus queria que eu estivesse, e também eu fui para uma Faculdade Bíblica. Embora a igreja seja agora defunta, ela teve um bom monte de frutos em seus dias [Nota da Tradutora: eu e meu marido pensamos o mesmo de nossa primeira igreja, em Campina Grande, Pb.].

Quando eu comecei a ouvir a respeito da doutrina da separação [bíblica], nesta igreja, eu soube instintivamente que tal doutrina era correta, porque eu estava lendo sobre ela nas Escrituras. Quando eu aprendi que os separatistas foram chamados [pelos seus inimigos] de fundamentalistas, eu soube que eu estava indo ser um fundamentalista, porque eu queria ser fiel às Escrituras, incluindo àquelas suas partes que são geralmente negligenciadas na Cristandade evangélica de hoje.

Assim, eu sou convencido que meu fundamentalismo vem da Bíblia.

Embora o termo "fundamentalismo" abranja muitas coisas diferentes e venha em muitas variedades -- tais como o fundamentalismo não denominacional, fundamentalismo Presbiteriano, e fundamentalismo batista -- em seu coração, em seu cerne fundamentalismo é uma decisão de inflexível alinhamento para com as Escrituras, um desejo de tomar a Bíblia seriamente em todos os assuntos.

ESCRITURAS QUE EXIGEM FUNDAMENTALISMO

Estou convencido de que a Bíblia exige fundamentalismo, que se um crente toma a Bíblia seriamente ele será algum tipo de fundamentalista, hoje. Seguem-se alguns dos versículos que exigem um tipo de fundamentalista, inflexível alinhamento com a Bíblia, no Cristianismo:

A Bíblia Exige Inflexível Fundamentalismo em DOUTRINA
"Ensinando-os a guardar TODAS AS COISAS que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém." (Mt 28:20)

"Porque nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus." (At 20:27)

"Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por TODO VENTO DE DOUTRINA, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente." (Ef 4:14)

"Como te roguei, quando parti para a Macedônia, que ficasses em Éfeso, para advertires a alguns, que não ensinem NENHUMA OUTRA DOUTRINA," (1Tm 1:3)

"13 ¶ Mando-te diante de Deus, que todas as coisas vivifica, e de Cristo Jesus, que diante de Pôncio Pilatos deu o testemunho de boa confissão, 14 Que guardes este mandamento SEM MÁCULA e repreensão, até à aparição de nosso Senhor Jesus Cristo;" (1Tm 6:13-14)

"Conserva o modelo das sãs palavras que de mim tens ouvido, na fé e no amor que há em Cristo Jesus." (2Tm 1:13)

"E o que de mim, entre muitas testemunhas, O MESMO ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros." (2Tm 2:2)

"Retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina, como para convencer os contradizentes." (Tt 1:9)

A Bíblia Exige Inflexível Fundamentalismo em TESTARMOS TODAS AS COISAS
"À lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, é porque não há luz neles." (Is 8:20)

"Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores." (Mt 7:15)

"Ora, estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim." (At 17:11)

"E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus." (Rm 12:2)

"15 Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido. 16 Porque, quem conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo." (1Co 2:15-16)

"Aprovando o que é agradável ao Senhor." (Ef 5:10)

"Para que aproveis as coisas excelentes, para que sejais sinceros, e sem escândalo algum até ao dia de Cristo;" (Fp 1:10)

"Examinai tudo. Retende o bem." (1Ts 5:21)

"Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo." (1Jo 4:1)

"Conheço as tuas obras, e o teu trabalho, e a tua paciência, e que não podes sofrer os maus; e puseste à prova os que dizem ser apóstolos, e o não são, e tu os achaste mentirosos." (Ap 2:2)

A Bíblia Exige Inflexível Fundamentalismo em GUERREARMOS PELA FÉ
"Aos quais nem ainda por uma hora cedemos com sujeição, para que a verdade do evangelho permanecesse entre vós." (Gl 2:5)

"Como tenho por justo sentir isto de vós todos, porque vos retenho em meu coração, pois todos vós fostes participantes da minha graça, tanto nas minhas prisões como na minha defesa e confirmação do evangelho." (Fp 1:7)

"Amados, procurando eu escrever-vos com toda a diligência acerca da salvação comum, tive por necessidade escrever-vos, e exortar-vos a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos." (Jd 1:3)

A Bíblia Exige Inflexível Fundamentalismo em CLARA, PÚBLICA DENÚNCIA E EXPOSIÇÃO DO ERRO
"Por isso estimo todos os teus preceitos acerca de tudo, como retos, e odeio toda falsa vereda." (Sl 119:128)

"E rogo-vos, irmãos, que NOTEIS OS que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que aprendestes; desviai-vos deles." (Rm 16:17)

"E, chegando Pedro à Antioquia, lhe resisti na cara, porque era repreensível." (Gl 2:11)

"19 Conservando a fé, e a boa consciência, a qual alguns, rejeitando, fizeram naufrágio na fé. 20 E entre esses foram Himeneu e Alexandre, os quais entreguei a Satanás, para que aprendam a não blasfemar." (1Tm 1:19-20)

"16 Mas evita os falatórios profanos, porque produzirão maior impiedade. 17 E a palavra desses roerá como gangrena; entre os quais são Himeneu e Fileto; 18 Os quais se desviaram da verdade, dizendo que a ressurreição era já feita, e perverteram a fé de alguns." (2Tm 2:16-18)



A Bíblia Exige Inflexível Fundamentalismo em SEPARAÇÃO DO ERRO E DA APOSTASIA
"E rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que aprendestes; DESVIAI-VOS DELES." (Rm 16:17)

"14 NÃO VOS PRENDAIS A UM JUGO DESIGUAL com os infiéis; porque, que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas? 15 E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel? 16 E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei, e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. 17 POR ISSO, SAÍ DO MEIO DELES, E APARTAI-VOS, diz o Senhor; E não toqueis nada imundo, E eu vos receberei; 18 E eu serei para vós Pai, E vós sereis para mim filhos e filhas, Diz o Senhor Todo-Poderoso." (2Co 6:14-18)

"Mandamo-vos, porém, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que VOS APARTEIS de todo o irmão que anda desordenadamente, e não segundo a tradição que de nós recebeu." (2Ts 3:6)

"3 Se alguém ensina alguma outra doutrina, e se não conforma com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e com a doutrina que é segundo a piedade, 4 É soberbo, e nada sabe, mas delira acerca de questões e contendas de palavras, das quais nascem invejas, porfias, blasfêmias, ruins suspeitas, 5 Contendas de homens corruptos de entendimento, e privados da verdade, cuidando que a piedade seja causa de ganho; APARTA-TE DOS TAIS." (1Tm 6:3-5)

"Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. DESTES AFASTA-TE." (2Tm 3:5)

"Ao homem herege, depois de uma e outra admoestação, EVITA-O," (Tt 3:10)

"10 ¶ Se alguém vem ter convosco, e não traz esta doutrina, NÃO O RECEBAIS em casa, nem tampouco o saudeis. 11 Porque quem o saúda tem parte nas suas más obras." (2Jo 1:10-11)

"E ouvi outra voz do céu, que dizia: SAI DELA, povo meu, para que não sejas participante dos seus pecados, e para que não incorras nas suas pragas." (Ap 18:4)



A Bíblia Exige Inflexível Fundamentalismo em DO PECADO E DO MUNDANISMO
"Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. NÃO PODEIS SERVIR A DEUS E A MAMOM." (Mt 6:24)

"E NÃO SEDE CONFORMADOS COM ESTE MUNDO, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus." (Rm 12:2)

"Não dando nós escândalo em coisa NENHUMA, para que o nosso ministério não seja censurado;" (2Co 6:3)

"E tenhais NENHUMA comunhão com as obras infrutuosas das trevas, mas antes condenai-as." (Ef 5:11)

"Abstende-vos de TODA a aparência do mal." (1Ts 5:22)

"11 ¶ Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens, 12 Ensinando-nos que, RENUNCIANDO À IMPIEDADE E ÀS CONCUPISCÊNCIAS MUNDANAS, vivamos neste presente século sóbria, e justa, e piamente, 13 Aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Salvador Jesus Cristo; 14 O qual se deu a si mesmo por nós para nos remir de TODA A INIQÜIDADE, e purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras." (Tt 2:11-14)

"A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e GUARDAR-SE DA CORRUPÇÃO DO MUNDO." (Tg 1:27)

"Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que A AMIZADE DO MUNDO É INIMIZADE CONTRA DEUS? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus." (Tg 4:4)

"Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós. ALIMPAI VOSSAS MÃOS, pecadores; e, vós de duplo ânimo, purificai os corações." (Tg 4:8)

"Mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em TODA A VOSSA MANEIRA DE VIVER;" (1Pe 1:15)

"15 NÃO AMEIS O MUNDO, NEM O QUE NO MUNDO HÁ. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. 16 Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo. 17 E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre." (1Jo 2:15-17)

"Sabemos que somos de Deus, e que todo o mundo está no maligno." (1Jo 5:19)

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Revelação Geral Imediata e Mediata


Revelação Geral Imediata e Mediata

Sl 19.1-4; At 14.8-18; At 17.16-34; Rm 1.18-23; Rm 2.14,15

Quando eu era menino e minha mãe queria que fizesse algo para ela sem demora, acentuava a ordem usando o adverbio imediatamente. Ela dizia: "Filho, vá para o seu quarto imediatamente."

Minha mãe usava a palavra imediatamente para referir-se a um evento no tempo que devia ocorrer sem qualquer bloco de tempo intermediário. Na teologia, o termo imediato significa algo mais. Significa que algo acontece sem passar por nenhum agente, objeto ou meio intermediários. É uma ação que ocorre sem a participação de intermediários.

Na teologia bíblica podemos distinguir dois tipos de revelação geral – aquela que é comunicada diretamente. Quando falamos de revelação geral imediata, nos referimos à revelação transmitida por meio de alguma coisa. Quando os céus revelam a Deus, tornam-se os mediadores, ou o meio pelo qual Deus manifesta sua glória. Neste sentido, todo o universo é um meio de revelação divina. A criação dá testemunho do seu Criador.

A Bíblia diz que toda a terra está repleta da glória de Deus. Lamentavelmente, com frequencia nós ignoramos essa glória que nos cerca. Temos a tendência de viver de maneira superficial. Estamos desatentos diante da maravilha que Deus nos proporciona em sua gloriosa criação. Estamos desligados e fora de contato. As idéias religiosas são inúteis se não expressam algo real.

A presença sublime de Deus está em toda a nossa volta. Ainda assim, muitas vezes estamos cegos e surdos para ela. Não compreendemos sua linguagem. Exige mais do que simplesmente parar para cheirar as flores. A flor contém mais do que um aroma suave ou um perfume agradável. Ela transpira a glória do seu Criador. Todos nós estamos em contato com a revelação divina, quando reconhecemos a glória de Deus na natureza e é revelada nela e por meio dela.
Além de revelar sua glória indiretamente por meio da criação, Deus também se revela diretamente à mente humana. Essa é chamada revelação geral imediata.

O apóstolo Paulo fala da Lei de Deus escrita em nosso coração (Rm.2.12-16). João Calvino falou sobre um senso do divino, o qual Deus implanta na mente de cada pessoa. Ele disse: Nós, inquestionavelemente, afirmamos que os homens têm em si mesmos certo senso da divindade; e isto, por um instinto natural. ... Deus mesmo dotou todos os homens com certo conhecimento de sua divindade, cuja memória ele constantemente renova e ocasionalmente amplia. (Institutas, II, 1,43).

Todas as culturas atestam a presença de alguma atividade religiosa, confirmando a incurável natureza religiosa da humanidade. Os seres humanos são religiosos no seu âmago. O caráter de tal religiosidade pode ser grosseiramente idólatra; mas até mesmo a idolatria, ou melhor, principalmente a idolatria, dá uma evidência desse conhecimento inato que pode ser distorcido, mas jamais destruído.

Lá bem no fundo da nossa alma nós sabemos que Deus existe e que nos deu suas Leis. Procuramos sufocar esse conhecimento a fim de escapar dos seus mandamentos. Por mais que nos esforcemos, porém, não podemos calar essa voz interior. Ela pode ser abafada, mas jamais ser destruída.

Sumário

1. A Glória de Deus é evidente em toda a nossa volta. Ela é mediata pela criação de Deus.

2. Os seres humanos são religiosos por natureza.

3. Deus implanta em todos os seres humanos um conhecimento inato de si mesmo. Isso se chama revelação geral imediata.

Autor: R. C. Sproul
Fonte: 1º Caderno Verdades Essenciais da Fé Cristã – R.C.Sproul. Editora Cultura Cristã.

A Revelação


A Revelação

R.C. Sproul


Sl 119.1-14; Ef 3.1-13; 2 Tm 3.14-17; Hb 1.1-4

Tudo o que sabemos sobre o Cristianismo nos foi revelado por Deus. Revelar significa "tirar o véu." Tem a ver com remover a cobertura e descobrir algo que está encoberto.

Quando meu filho era pequeno, nossa família desenvolveu uma tradição anual para comemorar seu aniversário. Em vez da prática geral de entregar os presentes, fazíamos isso por meio da nossa versão caseira do programa de televisão "Vamos Fazer um Trato." Eu escondia os presentes destinados a ele, por exemplo, dentro de uma gaveta, debaixo do sofá ou atrás de uma cadeira. Então lhe dava algumas opções: "Você pode ganhar o que está na gaveta da minha escrivaninha ou o que está no meu bolso". O ponto principal do jogo era o "grande trato do dia". Eu colocava três cadeiras, uma ao lado da outra, cada uma delas coberta com um lençol. Cada lençol encobria um presente. Na primeira cadeira colocávamos um presente simples, na Segunda o presente principal que ele iria ganhar e sobre a terceira uma muleta que ele havia usado quando quebrou a perna aos sete anos de idade.

Meu filho escolheu a cadeira com a muleta por três anos consecutivos! (No final, sempre permitíamos que trocasse a muleta pelo presente.) No quarto ano, estava determinado a não escolher mais a muleta. Desta vez, eu escondi o presente principal junto com a muleta, na mesma cadeira, e deixei a ponta da muleta aparecendo por baixo do lençol. Ao ver a ponta da muleta, meu filho evitou cuidadosamente aquela cadeira. Ganhei de novo!

A parte mais divertida da brincadeira era tentar adivinhar onde o presente estava escondido. Tratava-se contudo de um trabalho de mera suposição, pura especulação. A descoberta do verdadeiro tesouro só podia ser feita depois que o lençol era removido e o presente ficava exposto.

O mesmo acontece com o nosso conhecimento de Deus. A especulação fútil sobre Deus é mera tolice. Se queremos conhecê-lo de verdade, temos de depender daquilo que ele revela sobre si mesmo.

A Bíblia declara que Deus se revela de várias maneiras. Manifesta sua glória na natureza e por meio dela. Revelou-se nos tempos antigos por meio de sonhos e visões. As marcas da sua providência se manifestam nas páginas da História. Revela-se nas Escrituras inspiradas. O ponto mais alto da sua revelação é visualizado em Jesus Cristo, tornando-se ser humano – o que os teólogos chamam de "encarnação".

O autor da carta aos Hebreus escreveu: Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo. Hebreus 1.1,2.

Embora a Bíblia fale das "diversas maneiras" em que Deus se revela, distinguimos entre dois tipos principais de revelação – a geral e a especial.
A revelação geral é chamada assim por duas razões: (1) ela é geral no conteúdo e (2) é revelada para uma audiência geral.

Conteúdo Geral

A revelação geral nos proporciona o conhecimento de que Deus existe. "Os céus proclamam a glória de Deus", diz o salmista. A glória de Deus é manifesta nas obras das suas mãos. Essa manifestação é tão clara e visível que nenhuma criatura pode deixar de percebê-la. Ela revela o poder eterno de Deus e sua divindade (Rm.1.18-23). A revelação na natureza, porém, não proporciona uma revelação plena de Deus. Não nos dá informações sobre o Deus Redentor que encontramos na Bíblia. O Deus que se revela na natureza, entretanto, é o mesmo Deus que se revela na Bíblia.

Público Geral

Nem todas as pessoas no mundo já leram a Bíblia ou ouviram a proclamação do Evangelho. A luz da natureza, porém, brilha sobre todos, em todos os lugarem em todo o tempo. A revelação geral de Deus acontece diariamente. Deus nunca fica sem um testemunho de si mesmo. O mundo visível é como um espelho que reflete a glória do seu Criador.
O mundo é um palco para Deus. Ele é o ator principal, que aparece em primeiro plano e no centro. Nenhuma cortina pode fechar-se para obscurecer sua presença. Basta um olhar de relance na criação para se perceber que a natureza não é sua própria mãe. Não existe a tal "Mãe Natureza". A natureza em si mesma não tem poderes para produzir qualquer tipo de vida. A natureza, em si é estéril. O poder de produzir a vida reside no Autor da natureza – Deus. Colocar a natureza como a fonte de vida é confundir a criatura com o Criador. Todas as formas de adoração da natureza, portanto, são atos de idolatria e são abomináveis para Deus.
``A luz da força da revelação geral, todo ser humano sabe que Deus existe. O ateísmo envolve a negação total de algo que é reconhecido como verdadeiro. Por isso a Bíblia diz: "Diz o insensato no seu coração: Não há Deus." (Sl. 14.1). Quando as Escrituras tratam tão severamente o ateu, chamando-o de "insensato", elas estão fazendo um julgamento moral dele. Ser insensato, em termos bíblicos, não significa Ter pouco entendimento ou falta de inteligência; é ser imoral. Como o temor do Senhor é o princípio da sabedoria, assim a negação de Deus é o máximo da loucura.

Semelhantemente o agnóstico nega a validade da revelação geral. O agnóstico, porém, é menos berrante que o ateu. Ele não nega terminantemente a existência de Deus. Pelo contrário, ele declara que as evidências são insuficientes para se decidir de uma maneira ou de outra quanto à existência de Deus. Prefere suspender seu julgamento, deixando o tema da existência de Deus uma questão em aberto. À luz da clareza da revelação geral, entretanto, a posição do agnosticismo não é menos abominável para Deus do que a do ateísta militante.

Para qualquer pessoa, porém, cuja mente e coração estão abertos, a glória de Deus é maravilhosa de se ver – desde os bilhões de universos no firmamento, até as partículas subatômicas que formam a menor das moléculas. Que Deus incrível nós servimos!

Sumário

1. O cristianismo é uma religião revelada.

2. A revelação de Deus é uma auto-manifestação. Ele remove o véu que nos impede de conhecê-lo.

3. Não podemos conhecer a Deus por meio de especulação.

4. Deus se revelou de várias maneiras ao longo da História

5. A revelação geral é comunicada a todos os seres humanos.

6. O ateísmo e o agnosticismo são baseados na negação daquilo que as pessoas sabem ser a verdade.

7. A insensatez tem por fundamento a negação de Deus.

8. A sabedoria tem por fundamento o temor de Deus.

Autor: R. C. Sproul
Fonte: 1º Caderno Verdades Essenciais da Fé Cristã – R.C.Sproul. Editora Cultura Cristã. Compre este livro em http://www.cep.org.br .

Culpa. O Efeito da Revelação Geral


Culpa
O Efeito da Revelação Geral

"O que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhe manifestou". Romanos 1.19

A Escritura admite, e a experiência confirma, que os seres humanos inclinam-se naturalmente por uma forma de religião, embora falhem em adorar seu Criador, cuja revelação geral de si mesmo torna-o conhecido universalmente. O ateísmo teórico e o monoteísmo moral são opostos naturais: o ateísmo é sempre uma reação contra a crença pré-existente em Deus ou deuses, e o monoteísmo moral somente surgiu no despertar da revelação especial.

A Escritura explana este estado de coisas dizendo-nos que o pecado do egoísmo e da aversão às prescrições de nosso Criador conduz a humanidade à idolatria, o que significa transferir a adoração e reverência a outro poder ou objeto que não o Deus Criador (Is 44.9-20; Rm 1.21-23; Cl 3.5). Desta maneira, os humanos apóstatas "suprimiram a verdade" e "mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis" (Rm 1.23). Eles sufocam e extinguem, tanto quanto podem, a consciência que a revelação geral lhes dá do Criador-Juiz transcendente, e com seu inextirpável senso de deidade se apegam a objetos indignos. Isto, ao revés, leva a um drástico declínio moral, com a conseqüente miséria, como primeira manifestação da ira de Deus contra a apostasia humana (Rm 1.18,24-32).

No momento atual, no Ocidente, as pessoas idolatram e, na realidade, adoram objetos seculares, tais como a empresa, a família, o futebol e sensações agradáveis de várias espécies. Mas, o declínio moral persiste como resultado, tal como ocorreu quando os pagãos adoraram ídolos literais nos tempos bíblicos.

Os seres humanos não podem suprimir completamente sua percepção de Deus, bem como de seu julgamento presente e futuro; o próprio Deus não permitirá que o façam. Algum sentido do que é certo e errado, como também de ser submetido a um Juiz divino, sempre permanece. Em nosso mundo decaído, todas as mentes que não estão de algum modo anestesiadas têm uma consciência que, em certos pontos, as dirige e, de tempos em tempos, as condena, dizendo-lhes que devem sofrer pelos erros cometidos (Rm 2.14ss.); e quando a consciência fala nestes termos é, na verdade, Deus quem está falando.

A humanidade arruinada é, em certo sentido, ignorante de Deus, uma vez que o que as pessoas gostam de crer, e de fato crêem, com vistas ao objeto de seu culto falseia e distorce a revelação de Deus, da qual não podem escapar. Em outro sentido, contudo, todos os seres humanos permanecem cônscios de Deus, de modo culpável, com desconfortáveis pressentimentos do julgamento vindouro, que esperam não se cumpra. Somente o evangelho de Cristo pode falar de paz a esse aflito aspecto da condição humana.

Autor: J. I. Packer
Fonte: Teologia Concisa, pg. 11,12, Ed. Cultura Crista.

Os Profetas de Deus


Os Profetas de Deus

Dt 18.15-22; Is 6; Jl 2.28-32; Mt 7.15-20; Ef4.11-16

Os profetas do Antigo Testamento foram pessoas que receberam um chamado único de Deus e que receberam suas mensagens de maneira sobrenatural, as quais deveriam transmitir a nós. Deus transmitiu sua palavra através dos lábios e dos escritos dos profetas.

A profecia envolvia predição do futuro (preanunciar) e proclamação e exortação atuais da palavra de Deus (anunciar em seguida). Os profetas eram revestidos de tal maneira pelo Espírito Santo que suas palavras eram palavras de Deus. Por isso as mensagens geralmente eram prefaciadas com a frase: "Assim diz o Senhor".

Os profetas foram os reformadores da religião de Israel. Chamavam o povo de volta à adoração pura a Deus. Embora os profetas fossem críticos quanto à maneira como a adoração dos israelitas freqüentemente se degenerava num mero ritual, eles não condenavam nem atacavam as formas originais de adoração que Deus havia dado a seu povo. Os profetas não eram revolucionários nem anarquistas religiosos. Sua tarefa era purificas, não destruir; reformar, não substituir o culto de Israel.

Os profetas também se preocupavam profundamente com a justiça social e a integridade. Eram a consciência de Israel, chamando o povo ao arrependimento. Também funcionavam como promotores legais da aliança de Deus. Eles "intimavam" a nação por ter violado os termos da aliança com Deus.

Os profetas falavam com autoridade divina porque Deus os chamava especificamente para serem seus porta-vozes. Não herdavam sua função, nem eram eleitos para exercê-la. O chamado imediato de Deus, justamente com o poder do Espírito Santo, constituíam as credenciais dos profetas.

Os falsos profetas foram um problema constante em Israel. Ao invés de proferir os oráculos de Deus, transmitiam seus próprios sonhos e opiniões - dizendo ao povo somente o que este queria ouvir. Os verdadeiros profetas freqüentemente eram perseguidos e rejeitados por seus contemporâneos por se recusarem a comprometer a proclamação de todo o conselho de Deus.

Geralmente, os livros dos profetas são divididos em "profetas maiores" e "profetas menores". Essa distinção não se refere à maior ou menor importância dos profetas, mas ao volume dos seus escritos canônicos. Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel são chamados de profetas maiores, porque escreveram mais, enquanto que Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias são referidos como os profetas menores, porque seus escritos são bem menores.

Os apóstolos do Novo Testamento possuíam muitas das características dos profetas do Antigo Testamento. Os apóstolos e os profetas juntos são considerados como o fundamento da igreja.

Sumário

1. Os profetas do Antigo Testamento foram agentes da revelação divina.

2. A profecia envolvia pré-anúncio e anúncio.

3. Os profetas foram os reformadores do culto e da vida dos israelitas.

4. Somente aqueles chamados diretamente por Deus tinham autoridade para serem profetas.

5. Os falsos profetas expressavam suas próprias opiniões e falavam o que o povo queria ouvir.

6. Profetas maiores e menores são designados assim de acordo com o volume e não pela importância dos seus escritos.

Autor: R. C. Sproul
Fonte: 1º Caderno Verdades Essenciais da Fé Cristã – R.C.Sproul. Editora Cultura Cristã.

A Revelação Especial e a Bíblia


A Revelação Especial e a Bíblia

Sl 119; Jo 17.17; 1 Ts 2.13; 2 Tm 3.15-17; 2 Pe 1.20,21

Quando foi tentado por Satanás no deserto, Jesus o repreendeu com as palavras: "Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus" (Mt.4.4). Historicamente, a igreja tem feito ecoar o ensino de Jesus, afirmando que a Bíblia é a vox Dei, a "voz de Deus" ou o verbum Dei, a "Palavra de Deus'. Chamar a Bíblia de "a Palavra de Deus" não significa sugerir que ela foi escrita pela própria mão de Deus, ou que caiu do céu num pára-quedas. A própria Bíblia claramente chama a atenção para seus muitos autores humanos. Se a estudarmos cuidadosamente, percebemos que cada autor humano tem seu próprio estilo literário peculiar, seu próprio vocabulário, ênfase especial, perspectiva e outros aspectos. Já que a produção da Bíblia envolveu esforço humano, como pode ser ela considerada Palavra de Deus?

A Bíblia é chamada de Palavra de Deus por causa da sua reivindicação, crida pela igreja, de que os escritores humanos não escreveram simplesmente suas próprias opiniões, mas que suas palavras foram inspiradas por Deus. O apóstolo Paulo escreve: "Toda Escritura é inspirada por Deus" (2 Tm. 3.16). A palavra inspiração é uma tradução da palavra grega que significa "sopro de Deus". Quer dizer, Deus soprou a Bíblia. Assim como temos de expelir ar de nossa boca quando falamos, assim, em última análise, a Bíblia é Deus falando.

Embora a Bíblia tenha chegado a nós por intermédio das mãos de autores humanos, a fonte suprema das Escrituras é Deus. Por isso os profetas podiam prefaciar suas palavras, dizendo: "Assim diz o Senhor". Por isso Jesus também podia dizer: "A tua palavra é a verdade" (Jo. 17.17) e "a Escritura não pode falhar" (Jo. 10.35).

A palavra inspiração também chama a atenção par ao processo pelo qual o Espírito Santo superintendeu a produção da Bíblia. O Espírito guiou os autores humanos para que as palavras deles não fossem nada menos que a Palavra de Deus. Não sabemos como Deus superintendeu a redação original da Bíblia. Inspiração, entretanto, não significa que Deus ditou sua mensagem para aqueles que redigiram a Bíblia. Ao invés disso, o Espírito Santo comunicou as exatas palavras de Deus por intermédio dos escritores humanos.

Os cristãos afirmam a infalibilidade e a inerrância da Bíblia porque, em última análise, Deus é o seu autor. E porque Deus é incapaz de inspirar algo falso, sua palavra é totalmente verdadeira e digna de toda confiança. Qualquer literatura humana, elaborada pelos meios normais, está sujeita a erros. A Bíblia, porém, não é um projeto humano normal. Se a Bíblia foi inspirada por Deus e sua redação foi supervisionada por ele, então não pode ter erros.

Isso significa que as traduções da Bíblia que temos hoje não estejam isentas de erro, mas que os manuscritos originais eram absolutamente corretos. Isso também não significa que cada declaração da Bíblia seja a expressão da verdade. O escritor do livro de Eclesiastes, por exemplo, declara que "no além para onde tu vais, não há obra, nem projetos, nem conhecimento, nem sabedoria alguma" (Ec.9.10). O escritor estava falando do ponto de vista do desespero humano e sabemos que esta declaração não expressa a verdade, de acordo com outros textos bíblicos. A Bíblia expressa a verdade até mesmo ao revelar a falsa argumentação de um homem desesperado.

Sumário

1. A inspiração é o processo por meio do qual Deus soprou sua palavra.

2. Deus é a fonte suprema da Bíblia.

3. Deus é o superintendente da Bíblia.

4. Somente os manuscritos originais da Bíblia eram isentos de erros.

Autor: R. C. Sproul
Fonte: 1º Caderno Verdades Essenciais da Fé Cristã – R.C.Sproul. Editora Cultura Cristã.

Origem da Bíblia


Origem da Bíblia

A Bíblia não é um livro qualquer. A origem dela está em Deus, que falou através de homens separados para registrar sua Palavra. Sabemos que a questão do caráter humano das Escrituras é algo acidental ou periférico: os homens escolhidos por Deus para registrar as Escrituras eram pessoas de carne e osso, que viveram em determinado período histórico enfrentando problemas específicos. Não há lugar para nenhum docetismo: os autores secundários tiveram um papel ativo e passivo. No entanto, devemos também acentuar, e este é o nosso ponto neste texto [1], que o Espírito chamou seus servos, revelou a si mesmo e sua mensagem, dirigiu, inspirou e preservou os registros feitos por esses homens. Como afirmou Gerard Van Groningen:

O Espírito Santo habitou em certos homens, inspirou-os, e assim dirigiu-os que eles, em plena consciência, expressaram-se na sua singular maneira pessoal. O Espírito capacitou homens a conhecer e expressar a verdade de Deus. Ele impediu-os de incluir qualquer coisa que fosse contrária a essa verdade de Deus. Ele também impediu-os de escrever coisa que não eram necessárias. Assim, homens escreveram como homens, mas, ao mesmo tempo, comunicaram a mensagem de Deus, não a do homem [2].

Essa compreensão, que advém das próprias Escrituras, caracteriza distintamente o cristianismo: os profetas não falaram aleatoriamente o que pensavam; antes, "testificaram a verdade de que era a boca do Senhor que falava através deles" [3]. Sobre essa questão Calvino declarou:

Eis aqui o principio que distingue nossa religião de todas as demais, ou seja: sabemos que Deus nos falou e estamos plenamente convencidos de que os profetas não falaram de si próprios, mas que, como órgãos do Espírito Santo, pronunciaram somente aquilo para o qual foram do céu comissionados a declarar. Todos quantos desejam beneficiar-se das Escrituras devem antes aceitar isto como um principio estabelecido, a saber: que a lei e os profetas não são ensinos passados adiante ao bel-prazer dos homens ou produzidos pelas mentes humanas como uma fonte, senão que foram ditados pelo Espírito Santo [4].

Nas Escrituras temos todos os livros que Deus quis que fossem preservados para nossa edificação:

Aquelas [epístolas] que o Senhor quis que fossem indispensáveis à sua Igreja, Ele as consagrou por sua providência para que fossem perenemente lembradas. Saibamos, pois, que o que foi deixado nos é suficiente, e que sua insignificância não acidental; senão que o cânon das Escrituras, o qual se encontra em nosso poder, foi mantido sob controle através do grandioso conselho de Deus [5].

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Refletindo sobre a ordenação de mulheres ao Ministério Pastoral


Refletindo sobre a ordenação de mulheres ao Ministério Pastoral

Pr. Renato Vargens

I - Introdução:

O fato se mulheres podem ser ordenadas, ou não ao ministério, tem proporcionado uma série de debates na igreja evangélica nas mais distintas denominações. Infelizmente, o tema em questão, em vez de contribuir para o amadurecimento e crescimento da comunidade da fé, tem dividido igrejas e instituições de modo que denominações inteiras vêm sofrendo as conseqüências de polemizarem tal assunto.Entre os evangélicos, como comumente acontece existem, formas e maneiras diferentes de enxergar a questão: grupos distintos, desenvolveram percepções diferentes quanto à ordenação de mulheres ao ministério pastoral. Como por exemplo, os igualitaristas. Esta corrente, afirma que Deus originalmente criou o homem e a mulher iguais; e que o domínio masculino sobre as mulheres foi parte do castigo divino por causa da queda, com conseqüentes reflexos sócios-culturais. Segundo os igualitaristas mediante o advento de Cristo, essa punição e reflexos foram removidos; proporcionando conseqüentemente a restauração ao plano original de Deus quanto à posição da mulher na igreja. Portanto, agora, as mulheres têm direito iguais aos dos homens de ocupar cargos de oficialato da Igreja. Além dos igualitaristas, encontramos os diferencialistas , que por sua vez entendem que desde a criação – e portanto, antes da queda – Deus estabeleceu papéis distintos para o homem e a mulher, visto que ambos são peculiarmente diferentes. A diferença entre eles é complementar. Ou seja, o homem e a mulher, com suas características e funções distintas se completam. A diferença de funções não implica em diferença de valor ou em inferioridade de um em relação ao outro, e as conseqüentes diferenças sócios-culturais nem sempre refletem a visão bíblica da funcionalidade distinta de cada um. O homem foi feito cabeça da mulher – esse princípio implica em diferente papel funcional do homem, que é o de liderar.

No primeiro capítulo do livro de Gênesis, percebemos que ao criar o homem, Deus estabeleceu princípios que deveriam nortear suas relações com toda a criação. Note, a instrução da dada por Deus ao primeiro casal: "(...) enchei a terra e sujeita-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra" (Gn 1:28)Deus não pediu a Adão ou o orientou para que ele dominasse Eva ou qualquer outro ser humano. Deus nunca planejou qualquer tipo de dominação ou instrumentalizaçã o de vidas humanas. O processo de dominação e instrumentalizaçã o acontece somente a partir da desobediência e da queda de Adão (Gn 3:16). Devemos usar, dominar e instrumentalizar a terra, os animais, pessoas não!O homem não é superior a mulher, em sentido algum. Assim, os diferencialistas afirmam que diferença de papeis e igualdade ontológica (do ser) são duas verdades perfeitamente compatíveis e bíblicas, enquanto que os igualitaristas afirmam que diferença de papéis implica inevitavelmente em julgamento de valor.

Bem, entendendo o que dizem igualitaristas e diferencialistas, voltamos a questão do nosso debate: "Podem mulheres ser ordenadas para servir na igreja como episcopisas (bispas), pastoras, presbíteras"?

II - O Ministério Feminino

Definindo Ministério

O que é Ministério? Ministério é serviço. (diakonia), e todo cristão- homem e mulher, jovem e velho – é chamado para seguir as pegadas daquele que não veio ser servido mais servir. (Mc 10:45). A única questão sobre a qual refletir é a forma que deve assumir seu ministério, e se deve colocar limites a ele; e também se a mulher deve ser ordenada.

A Evolução do Pensamento Quanto o papel e função das mulheres na Igreja no Decorrer da História:

A Igreja Católica Romana:

Até o final do século XIX, a Igreja Católica Romana entendia que as mulheres não poderiam ocupar nenhum lugar de importância na Igreja. Neste período da história, as mulheres não estavam autorizadas a receber a comunhão durante o período menstrual; e, depois do parto, tinham de ser "purificadas" antes de poderem reentrar numa igreja. Era-lhes estritamente proibido tocar nos "objetos sagrados" tais como o cálice, e utensílios da eucaristia. Não podiam em caso algum distribuir a comunhão. Na igreja deviam usar sempre um véu sobre a cabeça. Além disso, também estava proibido à mulher:

1- Entrar no coro, salvo para limpeza.
2- Ler as Sagradas Escrituras no púlpito.
3- Pregar.
4- Cantar no coral da igreja.
5- Servir à missa.
6- Ser membro pleno de organizações e confrarias de leigos.

A mulher era considerada em estado de castigo por causa do pecado. Era tida como responsável pelo pecado original e encarada como fonte contínua de sedução. Como poderiam criaturas pecadoras transmitir a graça de Deus? A mulher era considerada como ritualmente impura devido à menstruação. Sendo assim, como seria possível permitir que as mulheres maculassem a igreja, o coro e, em particular, o altar?

A Reforma e sua contribuição

A Reforma Protestante, trouxe mudança de interpretação quanto à posição da mulher na Igreja. Entretanto, tanto Lutero quanto Calvino, expressaram algumas idéias a respeito das mulheres em relação ao ministério cristão que teriam exercido alguma influência sobre os grupos protestantes, no que se refere à permissão às mulheres para exercerem cargos de liderança na igreja.

Lutero havia ensinado que todos os cristãos tinham o dever de desempenhar determinadas funções sacerdotais e que, sob circunstâncias incomuns, quando não houvesse um homem em disponibilidade, seria permitido que a mulher pregasse. Calvino acreditava que as questões envolvendo o governo e o culto da igreja, diferentemente da doutrina básica, poderiam sofrer mudanças com adaptações para uma cultura particular.

A igreja deveria ser sensível à cultura ao seu redor, de modo que não ofendesse indevidamente a sociedade quanto àquelas questões.

Os Batistas e os Quakers:

Houve dois grupos que deram oportunidades especiais as mulheres para que ministrassem: os Batistas do século XVII e os Quakers. Assim salientou um quaker proeminente. "Visto que todos são iluminados pelo Espírito Santo, o ministério da pregação, não está, logicamente, limitado aos homens. Os batistas e outros grupos tinham mulheres que pregavam. Há outras fontes que apóiam esta observação, pois declaram que mulheres pregavam na Holanda, na Inglaterra e em Massachusetts. Uma congregação londrina tinha cultos especiais em que mulheres pregavam, as quais, às vezes, atraíam multidões de mais de mil pessoas. As atividades das mulheres que serviam como ministras, entre algumas facções de crentes do século XVII, induziram a publicação do primeiro livro em inglês em defesa da participação feminina no ministério cristão.

John Wesley:

O movimento metodista do século XVIII, conduzido por John Wesley, de modo especial na Inglaterra e Estados Unidos, haveria de ter conseqüências significativas quanto ao ministério feminino. Wesley, inicialmente resistiu a idéia de mulheres pregadoras, no entanto, com o passar do tempo finalmente admitiu que as mulheres também poderiam receber uma vocação para realizar um trabalho que sempre fora proibido por tradição: falar em reuniões, testemunhar da fé, ensinar e finalmente pregar.

A Era das Pregadoras:

O despertamento evangélico do século XVIII, foi seguido de outro semelhante, na primeira metade do século XIX. Neste período houve um grande afluxo de mulheres na igreja, o século XIX tornou-se de maneira muito pronunciada, a era das mulheres.

As Denominações e as mulheres no século XX:

No século XX As igrejas luteranas definitivamente aceitaram mulheres no ministério. A igreja reformada da França em 1965 recebeu mulheres no ministério, e no ano seguinte o mesmo aconteceu à igreja da Escócia. Entre as igrejas livres britânicas desde 1917 têm-se ordenado mulheres ao ministério. Na igreja anglicana o padrão é irregular. O Bispo R. Hall de Hong Kong foi o 1º a ordenar uma mulher para o ministério (isto é: presbítera). Isto aconteceu em 1944. Em 1968, a Conferência Lambeth (de bispos anglicanos) declarou que os argumentos teológicos apresentados a favor e contra a ordenação de mulheres para o ministério são inconclusivos. Entretanto, em 1975 o sínodo geral da Igreja da Inglaterra expressou o ponto de vista segundo o qual "não há objeções fundamentais 'a ordenação de mulheres para o ministério."

Quanto às objeções:

É bem possível que alguns cristãos diante disto ainda pergunte:

1- Não só eram homens todos os apóstolos e presbíteros no tempo do Novo Testamento?

2- Porventura não existia no NT a orientação de que as mulheres deveriam permanecer caladas na igreja e não ensinar ou ter autoridade sobre os homens?


Algumas alegações Bíblicas favoráveis à ordenação de Mulheres:

1º - No AT, havia tanto profetisas quanto profetas, as quais eram chamadas e enviadas por Deus, para serem portadoras de sua Palavra. Mulheres como Hulda, no tempo do rei Josias (II Rs 22:14), Miriã,(Ex 15:20) irmã de Moisés, foram descritas como profetisas, enquanto Débora (Jz 4:04) foi mais além: ela julgou também Israel por alguns anos, resolvendo suas disputas e conduzindo-os à batalha contra os cananitas.

2º- No NT, embora na verdade Jesus não tenha tido nenhuma mulher no apostolado, foi a uma mulher quem primeiro ele se revelou depois da ressurreição, tendo confiado a ela as boas novas de sua vitória.

3º- O livro de Atos e as Epístolas, por sua vez contêm, muitas referências a mulheres que falavam e que trabalhavam. Como por exemplo:

a) As quatro filhas não casadas de Felipe, que tinham o dom de profecia.
b) Paulo por sua vez, se refere às mulheres que oravam e profetizavam na igreja de Corinto.
c) Paulo permaneceu várias vezes na companhia de Áquila e Priscila. Priscila era evidentemente ativa no trabalho de Cristo, em seu companheirismo conjugal. Por duas vezes é mencionada antes do marido.
d) Paulo teve mulheres auxiliadoras em sua companhia, assim como Jesus. É expressivo o nº de mulheres que menciona em suas cartas. Eudócia e Sintique, em Filipos são por ele descritos como "cooperadoras" (termo que também emprega para homens como Timóteo e Tito) combatentes ao seu lado pela causa do evangelho. Em Romanos 16 ele se refere aproximadamente a 08 mulheres, começando pela irmã Febe, serva (e talvez diaconisa) da igreja de Cencréia. "protetora de muitos" inclusive dele próprio. Envia então saudações a Maria, Trifena, Trifosa, e Persis entre outras, as quais diz ele - trabalharam "duro ou muito duro no serviço do Senhor."

4º- Além das referências específicas já mencionadas, há mais uma a corroborar com o ministério da mulher . É que no dia de Pentecostes, em cumprimento da profecia, Deus derramou do seu Espírito, sobre toda carne – Inclusive filhos e filhas e servos, homens e mulheres. Se o próprio Espírito foi dado a todos os cristãos, de ambos os sexos, também foram concedidos os dons (quer Congregacionais, quer ministeriais) e que delem procedem. Não há evidência, nem sequer insinuação de que os carismas se restringiam ao homem. Pelo contrário, os dons do Espírito foram distribuídos entre todos, para o bem comum, tornando possível o que é muitas vezes chamados de "ministério de todo membro do corpo de Cristo". Devemos concluir que Cristo não apenas concedeu dons (inclusive os de ensinar) à mulher mas paralelamente com os dons, chamou-a a desenvolver e exercitar esses dons em seu serviço e no serviço aos outros, para a edificação do seu corpo.Até aqui tudo claro. Mas voltemos agora a dupla ordem dada a mulheres para permanecerem em silêncio nas assembléias públicas. Como tratar então destes textos? Em I Corintios 14 Paulo está preocupado é com a edificação da igreja (e.g versos 3-5 e 26) e com decência e ordem na condução da adoração pública.(Verso 40). A ordem de Paulo para que as mulheres ficassem em silêncio é dirigida fundamentalmente a um grupo particular de mulheres, ou seja, mulheres que falavam demasiadamente, e não a todas as mulheres da igreja indistintamente. Assim portanto, é um equívoco pensar a partir deste texto que Paulo estivesse defendendo a idéia de que as mulheres não deveriam falar na igreja. Da mesma forma como os que falavam em línguas deviam permanecer calados na igreja caso não houvesse interprete (verso 28), e o profeta deveria para de falar se uma revelação fosse dada a um outro. (verso 30), assim também as mulheres tagarelas e faladeiras deveriam permanecer "caladas" na igreja. Se tivessem perguntas, que fizessem ao marido em casa (verso 34). Porque este era o principio que parecia governar todo comportamento público na igreja, Deus não é de confusão mais de paz (verso 33). Portanto, o que está em vista aqui não é uma proibição para todas a mulheres de falarem na igreja. Se Paulo estivesse fazendo tal proibição ele não mencionaria que a mulher poderia profetizar: "Toda mulher, porém, que ora ou profetiza com a cabeça sem véu desonra a sua própria cabeça, porque é como se a tivesse rapada." I Co 11:05

Soma-se a isso o fato de Paulo também mencionar que todos da congregação deveriam contribuir para a edificação com salmos, doutrina, revelações, línguas etc... Sem limitar ou restringir tais ações ou manifestações aos homens (verso 26). Muito possivelmente as mulheres as quais Paulo estava ordenando para que ficassem em silêncio sejam aquelas mulheres que haviam se convertendo dos cultos pagãos na cidade de Corinto. Perto desta cidade existia uma ilha chamada Agrocorinto, onde as jovens virgens das regiões próximas eram oferecidas como sacerdotisas num templo da deusa grega Afrodite. No culto profano, elas tinham que raspar a cabeça para dirigir as cerimônias realizadas em homenagem à deusa - daí a origem de outra orientação de Paulo para que, dentro do templo, elas mantivessem a cabeça coberta, possivelmente para não chamar a atenção. Convertidas pela mensagem do Evangelho, elas levavam para a igreja alguns hábitos perniciosos, como a conversa descontrolada, que chocava os crentes primitivos, impregnados de elementos da tradição judaica, onde a mulher tinha que ficar afastada do cerimonial." John Stott, acredita que existem situações nas quais é perfeitamente apropriada a mulher ensinar ao homem, visto que ao faze-lo ela não está usurpando uma autoridade indevida sobre ele.

Para isso 3 condições precisam ser cumpridas relativamente ao conteúdo, ao contexto e ao estilo de ensino:

1) O conteúdo

Jesus, escolheu, indicou e inspirou seus apóstolos como mestres infalíveis da sua igreja. O conteúdo e a mensagem existente na Bíblia é indiscutivelmente a Palavra de Deus. É imperioso que entendamos que o cânon das escrituras foi encerrado, e que hoje não existe apóstolos como os do primeiro século. Isto significa dizer, que não existe mais nada a ser revelado que já não fora revelado e que não esteja contido nas Escrituras. Na verdade a função primária dos mestres cristãos é "guardar o depósito" da doutrina apostólica no novo testamento e a expor. Portanto, o conteúdo a ser pregado deve ser exclusivamente a Palavra de Deus sem espaços para "novas revelações".

2) O Contexto

Em segundo lugar há o contexto do ensino, que deve ser entregue à equipe ministerial na igreja local. Quer direta ou indiretamente, Paulo indicou "presbíteros" (plural) em todas as igrejas. John Stott, afirma que muitas igrejas locais em nossos dias estão se arrependendo do ministério não bíblico de um só homem, e voltando ao modelo sadio da supervisão pastoral plural. Os membros de uma equipe podem capitalizar a soma total de seus dons, e nela deve haver seguramente uma mulher, ou mulheres. Mas, mantendo o ensino bíblico da liderança masculina, John Stott acredita que um homem deve liderar a equipe.

3) O Estilo

A terceira condição da aceitação do ensino pela mulher diz respeito ao estilo: Os mestres cristãos não devem ser arrogantes, sejam homens ou mulheres. Sua humildade deve manifestar-se tanto na submissão a autoridade da Escritura quanto em seu espírito de modéstia pessoal. O apostolo Pedro, sensível a tentação de orgulho que todo líder cristão enfrenta, exorta os companheiros de presbiterado a colocarem o avental da humildade, não como dominadores dos que foram confiados aos seus cuidados pastorais, mais tornando-se modelo do rebanho de Cristo. Estas instruções aos homens seriam ainda mais claramente exemplificadas nas mulheres que atingiram sua identidade feminina e não estão tentando de algum modo assumir a identidade masculina.

Concluindo:

Parece biblicamente permissível que as mulheres ensinem aos homens, desde que o conteúdo do ensino, seja bíblico, que seja submissa a um presbitério, e cujo estilo de ministério seja feminino e humilde.

Isto significa que:

1- Uma mulher poderá ser ordenada ao ministério desde que:

a) Esteja apta, bem como aprovada quanto ao conteúdo da mensagem que prega e ensina.

b) Demonstre submissão ao esposo (que de modo imprescindível tem de ter sido ordenado ao ministério)

c) Esteja submissa a um presbitério local. Implicando assim a impossibilidade de exercer qualquer tipo de atividade episcopal.

d) Exerça o seu dom com simplicidade e sem mutilar a sua própria feminilidade.

Quais as razões para as restrições em relação à ação ministerial da mulher?

1) A Ordem da Criação. - Primeiro foi criado o homem. A mulher foi criada por causa do homem e não o homem por causa da mulher.

2) O Ensino Paulino. – Paulo afirma que o homem é o cabeça da mulher, assim como Cristo é o cabeça da igreja.

3) A própria diferenciação fisiológica.

III - Outras considerações:

1- O mundo vive uma grande crise quanto à sexualidade.

2- A era da inversão de papéis na família.

3- A pós-modernidade e seus efeitos na sociedade.

4- O pré-conceito de uma sociedade machista.

5- Embora a Bíblia não diga nada diretamente a favor do pastorado feminino, também não diz nada contra.

Pr. Renato Vargens

Bibliografia:
1- Grandes Questões sobre Sexo - John Stott
2- Decisive Issues Facing Christians Today- John Stott
3- De Pai pra Filho – Luciano Vilaça
4- Mulheres no Ministério – Robert D. Culver, Susan Foh, Walter Liefeld, Alvera Mickelson
5- Women in the Methodist Movement – Frederick A. Norwood
6- Women's speaking, justified, proved and allowed of by the scriptures - Richard Greaves
7- Ordenação feminina: O Que o Novo Testamento Tem a Dizer? Augustus Nicodemus Lopes
8- Ordenação de Mulheres ao Ministério – Afonso Martins Fernandes Neto
9- Lugar de Mulher é no Púlpito –Marcelo Dutra e Marcos Almeida - Revista Vinde – outubro/1977
10- Ordenação das Mulheres? - John Wijngaards
11- O Silêncio de Adão – Larry Crabb

__._,_.___

Milagres Falsos


Milagres Falsos

por

R. C. Sproul

A questão que envolve o problema de Deus realizar milagres nos dias
de hoje é complexa e freqüentemente controversa. Se uma pessoa no
campo evangélico declara que não crê nos milagres que acontecem hoje,
ela freqüentemente é vista com desconfiança. A suspeita se levanta
porque a descrença nos milagres está associada ao naturalismo,
ceticismo ou Liberalismo (Uso a letra L maiúscula para Liberal a fim
de me referir a uma escola diferente de teologia e não a uma pessoa
que, de algum modo, possa ser considerada liberal.)

Uma vez que um ponto muito importante da disputa entre o Liberalismo
e o protestantismo envolve milagres bíblicos, a disputa se estende à
questão dos milagres atuais também. Há uma tendência aqui de atribuir
culpa por associação; como o Liberalismo não crê que os milagres
acontecem hoje, estamos propensos a pensar que qualquer pessoa que
negue que os milagres acontecem hoje deva ser Liberal. A diferença
fundamental entre evangélicos e Liberais na questão dos milagres não
é se eles acontecem hoje, mas se eles aconteceram no passado, como
afirma a Bíblia.

João Calvino, por exemplo, raramente é considerado um Liberal.
Calvino e Lutero, na época da Reforma, foram repetidamente desafiados
pela Igreja Católica Romana a realizarem milagres que autenticassem
seus ensinamentos. Roma apelou para seus milagres documentados de
santos como provas de que Deus estava falando por intermédio da
Igreja Católica Romana e não por meio dos reformadores. De sua parte,
os reformadores negaram que o ofício apostólico continuava na Igreja
ou que a Igreja era a fonte de nova revelação divina.

A discussão sobre a revelação contínua era crítica à posição da
Reforma de Sola Scriptura , a crença de que as Escrituras eram
suficientes e a única fonte de revelação especial. Roma alegava que
uma segunda fonte de tal revelação especial acontecia na tradição da
Igreja. Essa fonte dupla de revelação foi decretada no Concílio de
Trento no século XVI e reafirmada pela encíclica papal de Pio XII,
Humani Generis , no século XX. Roma, consciente da importância
bíblica de comprovação e testemunho dos milagres aos agentes da
revelação, podia apelar aos milagres da Igreja para sustentar sua
declaração de que ele era a verdadeira Igreja e que os reformadores
eram falsos profetas.

Esta questão da falta de milagres dos reformadores foi mencionada por
Calvino em sua carta ao rei da França que introduz sua famosa obra As
Institutas. Calvino diz:

Que de nós exigem milagres, agem de má fé. Ora, não estamos [nós] a
forjar algum Evangelho novo, ao contrário, retemos aquele mesmo à
confirmação de cuja verdade servem todos os milagres que outrora
operaram assim Cristo como os Apóstolos. E isto de singular têm
[eles] acima de nós, que podem confirmar a sua fé mediante constantes
milagres até o presente dia! Contudo, [o fato é que] estão antes a
invocar milagres que se prestam a perturbar o espírito doutra sorte
inteiramente sereno, a tal ponto são [eles] ou frívolos ou ridículos,
ou vão e mendazes (As Institutas - Editora Cultura Cristã, 1985, SP;
vol. 1, p. 20).

Os reformadores magisteriais alegavam que a doutrina que seguiam era
confirmada pela autoridade da Bíblia. Observamos nesses argumentos
que nem Roma, nem os reformadores desafiaram a premissa de que os
milagres funcionam como sinais que autenticam os agentes da
revelação; eles concordavam sobre essa questão. O pomo da discórdia
era se a revelação continuava além da era apostólica e com a
revelação contínua, a autenticação contínua por meio do milagre.
Calvino e Lutero desafiaram a autenticidade não só dos ensinamentos
de Roma e de sua declaração de uma autoridade apostólica e revelação
contínua, mas a autenticidade de seus milagres declarados. Os
reformadores achavam que os milagres de Roma não eram apenas
frívolos, mas falsos. Eles negavam que os milagres eram verdadeiros
de fato.

Uma coisa está clara sobre esta disputa. A questão não era se Deus
podia realizar milagres, mas se a Bíblia era a única fonte de
revelação especial registrada. Essa questão é freqüentemente ignorada
na discussão atual sobre a continuidade de milagres. Dentro do
cristianismo hoje, especialmente, mas não exclusivamente na facção
carismática, vêm sendo feitas declarações da nova revelação de Deus e
a presença abundante de novos milagres. A possibilidade de milagres
atuais é considerada tão grande que cartazes são vendidos nas
livrarias cristãs e adornam os gabinetes de muitos pastores com a
frase "Espere por um Milagre!". Nesses círculos, os milagres não são
só considerados possíveis, mas são esperados. Os evangelistas
prometem milagres em seus cultos de renovação e, até mesmo, declaram
realizá-los em rede nacional de televisão.

Devemos também ter o cuidado de observar que muitos evangélicos estão
convencidos de que a revelação não continua até hoje, mas que os
milagres continuam. Eles separam os milagres da revelação na
suposição de que podemos ter operadores de milagres sem revelação
enquanto outros alegam que você pode ter a revelação sem os milagres.
Uma vez que os milagres têm outras funções além de agentes que
testificam a revelação, eles podem continuar sem qualquer revelação
correspondente.

A posição clássica da Reforma sobre essa questão concorda que os
milagres têm outras funções além de autenticar os agentes da
revelação, como vimos. Isto é, os milagres podem fazer mais do que
atestar os agentes da revelação. Contudo, a questão continua; Eles
podem fazer menos? Nisto reside o problema.

Se um não-agente da revelação é capaz de realizar milagres, como os
milagres podem funcionar como provas do testemunho de um agente da
revelação?

Se agentes e não-agentes da revelação podem realizar milagres, que
valor de testemunho pode existir em um milagre? Se um falso profeta
pode realizar um milagre, o verdadeiro profeta não pode apelar aos
milagres como provas de sua própria posição.

O problema fica mais difícil quando vemos que o Novo Testamento apela
aos milagres dos apóstolos como provas de sua autoridade, o que é
claramente um apelo ilegítimo e um argumento falso se é verdade que
os não-agentes da revelação podem realizar milagres.

Fui convidado certa vez para falar em uma reunião de livreiros
cristãos na época em que o livro Bom Dia, Espírito Santo, de Benny
Hinn, era o mais vendido no mercado cristão. Perguntei: se Hinn
estava realizando os milagres que ele declarava realizar, por que
ninguém estava defendendo que seu livro fosse acrescentado ao cânon
do Novo Testamento? Hinn declarava ter recebido uma nova revelação,
que Deus ainda falava audivelmente a ele; conseqüentemente, ele tinha
todas as credenciais exigidas de um profeta da Bíblia.

Uma das coisas que está notavelmente ausente no repertório dos
operadores de milagres modernos é o tipo de milagres que eram
realizados por intermédio dos agentes bíblicos da revelação. Benny
Hinn realiza seus milagres em um palco com um equipamento cênico que
teria escandalizado os apóstolos. Ele não realiza milagres no
cemitério. Quem é o operador de milagres hoje que é capaz de
transformar água em vinho ou ressuscitar pessoas que morreram há
quatro dias? Benny Hinn não pode separar o mar Vermelho ou fazer com
que machados flutuem. Por que não? A qualidade do milagre que
sobrevive até os dias de hoje é menor do que aquela dos realizados
pelos agentes bíblicos da revelação? Será que o braço do Senhor está
encolhido?

Está claro que, como quer que definamos um milagre, devemos colocar
os pretensos milagres de hoje em uma classe ou categoria diferente
daqueles registrados nas Escrituras. Ninguém está tirando algo do
nada atualmente - exceto o governo federal, que fabrica dinheiro sem
lastro!

Isto significa então que Deus, na sua providência, não está mais
agindo?

Deus suspendeu e desistiu de exercer seu poder sobrenatural em nosso
meio?

Deus não responde às orações de modos extraordinários ou concede
pedidos de cura quando os médicos dizem que tal cura não pode
acontecer?

De maneira alguma.

Deus ainda vive e age. Ele responde às orações do seu povo de
maneiras notáveis. Sua graça sobrenatural está manifesta entre nós
todos os dias. Se considerarmos estas coisas como milagres, então,
devemos admitir que os milagres ainda estão acontecendo.

Distinguimos três categorias de questões levantadas pela função de
milagres para testificar os agentes da revelação e autenticar sua
Palavra escrita. Essas categorias incluem

a providência comum de Deus,

sua providência extraordinária e

seus milagres (no sentido restrito já definido).

Dentro dessas três categorias, afirmamos que Deus continua sua obra
de providência comum e sua obra de providência extraordinária, mas
não sua obra de autenticar os agentes da revelação especial com
milagres no sentido restrito.

Milagres Satânicos

A questão continua: E os milagres de Satanás? A Bíblia não ensina que
Satanás, o Grande Enganador, também pode realizar milagres?
Observemos alguns dos textos relevantes da Bíblia que levantam esta
questão:

Quando profeta ou sonhador de sonhos se levantar no meio de ti, e te
der um sinal ou prodígio, e suceder o tal sinal ou prodígio, de que
te houver falado, dizendo: Vamos após outros deuses, que não
conheceste, e sirvamo-los; não ouvirás as palavras daquele profeta ou
sonhador de sonhos; porquanto o Senhor vosso Deus vos prova, para
saber se amais o Senhor vosso Deus com todo o vosso coração, e com
toda a vossa alma (Dt 13.1-3).

Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em
teu nome? E em teu nome não expulsamos demônios? E em teu nome não
fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos
conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade (Mt
7.22,23).

Então, se alguém vos disser: Eis que o Cristo está aqui, ou ali, não
lhe deis crédito; porque surgirão falsos cristos e falsos profetas, e
farão tão grandes sinais e prodígios que, se possível fora,
enganariam até os escolhidos. Eis que eu vo-lo tenho predito.

Portanto, se vos disserem: Eis que ele está no deserto, não saiais;
eis que ele está no interior da casa, não acrediteis (Mt 24.23-26).

A esse cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder,
e sinais e prodígios de mentira, e com todo o engano da injustiça
para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se
salvarem. E por isso Deus lhes enviará a operação do erro, para que
creiam a mentira; para que sejam julgados todos os que não creram na
verdade, antes tiveram prazer na iniqüidade (2Ts 2.9-12).

Esta amostra de textos bíblicos chama a atenção para a sóbria
admoestação acerca dos poderes e do engano de Satanás. Sua primeira
aparição como serpente no Éden foi marcada pela malícia e astúcia, e
ele continua a ser um adversário formidável para o povo de Deus. Como
Lutero disse: "astuto e mui rebelde" e, uma vez que está unido
ao "ânimo cruel", ele se torna ainda mais perigoso. Satanás é tão
habilidoso na arte de enganar que ele é capaz de nos aparecer sub
species boni, ou sob os auspícios do bem. Ele pode se transformar em
anjo de luz, e ele busca enganar até "os escolhidos" (Mt 24.24 e Mc
13.22).

As Escrituras retratam Satanás como um ser superior a nós. Ele é um
ser angelical, embora seja um anjo caído.

Como tal, estritamente falando, ele não é um ser sobrenatural. Ele
pode ser superior ao que esperamos ver na "natureza" comum, mas ele
ainda pertence à ordem natural no sentido de que ele é uma criatura e
parte da ordem de criaturas da natureza. Ele não está no nível de
Deus e não possui atributos divinos incomunicáveis. Ele é um ser
espiritual, porém um espírito finito. Ele não é infinito, eterno,
imutável, onisciente ou onipresente. Ele pode ter mais conhecimento
do que temos e um poder maior, mas ele não tem o poder divino.

Quando a Bíblia fala de pretensos "milagres" de Satanás, suas obras
são chamadas de "sinais e prodígios de mentira" (2Ts 2.9). A questão
é a seguinte: o que quer dizer o termo mentira?

Isto significa que Satanás pode realizar milagres verdadeiros em
favor de uma causa mentirosa?

Ou significa que os sinais e prodígios que ele realiza são mentiras
na medida em que são truques fraudulentos e não milagres verdadeiros?

Os teólogos se dividem nesta questão.

Alguns crêem que Satanás pode realizar milagres verdadeiros no
sentido de que ele pode fazer obras que são contra naturam, e alegam
que essas obras não são contra peccatum , ou "contra o pecado". Esta
distinção técnica tem o objetivo de mostrar que, embora Satanás possa
agir contra a natureza, ele nunca pode, ou pelo menos não poderá,
agir contra seus próprios propósitos do mal, que são "a favor do
pecado" em vez de "contra o pecado" . O raciocínio é que uma casa
dividida contra si mesma não permanece e Satanás nunca agirá contra
seus próprios objetivos fazendo milagres. Seus milagres sempre são
direcionados contra o bem e a verdade de Cristo. Sabemos, por
defensores dessa opinião, que podemos discernir a diferença entre os
milagres de Satanás e os milagres de Deus, sujeitando-os à prova da
Escritura.

Esse argumento sofre de uma falácia fatal, a falácia do raciocínio
circular. Antes de podermos testar os milagres de Satanás pelo
contexto da Escritura, devemos, primeiro, ter uma Escritura pela qual
testá-los. Lembramos que a Escritura é atestada pelos milagres
realizados pelos agentes da revelação que certificam que são porta-
vozes de Deus. Contudo, como sabemos que os milagres que os atestaram
não foram satânicos? Talvez Nicodemos devesse ter corrigido sua
afirmação para, "Bem sabemos que és Mestre, vindo de Deus ou de
Satanás; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus
não for com ele". Na verdade, foi essa a acusação que os fariseus
fizeram contra Jesus, que ele estava realizando milagres pelo poder
de Satanás. Neste ponto, sua teologia foi inferior àquela de
Nicodemos, que foi mais restritiva na sua visão de milagre.

O mesmo problema que encontramos com a questão dos milagres
realizados por não-agentes da revelação está exagerado pelo problema
dos milagres satânicos. Se Satanás pode realizar milagres
verdadeiros, então o apelo bíblico aos milagres como certificação de
que os operadores de milagres vêm de Deus é um apelo ilegítimo.

Penso que faz mais sentido concluir que a "mentira" que descreve os
sinais e prodígios de Satanás não só descreve seu objetivo, mas seu
caráter. Eles são sinais mentirosos por serem fraudulentos e falsos.
Seus sinais se assemelham aos truques espantosos realizados pelos
magos do Egito que buscavam ter os mesmos poderes de Moisés:

E o Senhor falou a Moisés e a Arão, dizendo: Quando Faraó vos falar,
dizendo: Fazei por vós algum milagre; dirás a Arão: Toma a tua vara,
e lança-a diante de Faraó, e se tornará em serpente. Então Moises e
Arão entraram a Faraó, e fizeram assim como o Senhor ordenara; e
lançou Arão e sua vara diante de Faraó, e diante dos seus servos, e
tornou-se em serpente.

E Faraó também chamou os sábios e encantadores e os magos do Egito
fizeram também o mesmo com os seus encantamentos. Porque cada um
lançou sua vara, e tornaram-se em serpentes; mas a vara de Arão
tragou as varas deles (Êx 7.8-12).

Os magos do Egito não tinham mais mágicas do que os mágicos têm hoje.
A diferença é que a maioria dos mágicos modernos no mundo ocidental
realmente não declara fazer mágica, contudo, está muito disposta a se
chamar de "ilusionista" , ou mestre do truque de mão. Existem muitas
lojas de magia onde aqueles interessados nessa forma moderna de
entretenimento podem aprender muitos truques da arte. Certa vez, tive
um vizinho que era marceneiro. Sua especialidade era fazer gabinetes
especiais para a realização de mágicas. Eles tinham mecanismos
inteligentes de dobradiças, fundos falsos, painéis secretos e
freqüentemente espelhos. Os mágicos de hoje não têm problemas para
esconder um coelho em uma cartola ou mesmo uma cobra em um tubo
desmontável. Quando Moisés e Arão realizaram seus milagres, os magos
do Egito acharam que podiam fazer igual. Contudo, não só suas
serpentes foram tragadas no processo, eles ficaram aflitos quando
logo se esgotou seu saco de truques e não puderam realizar os feitos
dos verdadeiros operadores de milagres.

Alguns dos truques realizados pelos mágicos modernos são
verdadeiramente espantosos para aqueles que os assistem. A ironia é
que, embora muitos deles exijam grande habilidade e anos de uma
cuidadosa prática, alguns dos feitos mais magníficos que eles
realizam são, ao mesmo tempo, alguns dos mais simples de se executar.

Lou Costello ganhava muito dinheiro em apostas quando mostrava uma
pilha normal de cartas e pedia a um "trouxa" para selecionar qualquer
carta do monte. Então, Lou lhe dizia que conhecia alguém em uma
cidade distante que era um confiável telepata. Lou apostava que se o
homem ligasse para o telepata e pedisse para falar com o mago, esse
mago lhe contaria, por meio de telepatia, qual carta ele tinha
selecionado. Quando o tolo fazia a aposta (como Jackie Gleason
admitiu ter feito uma vez), ele discava o número e chamava o mago. O
mago pedia que o homem pensasse na carta que tinha selecionado e,
então, prontamente, lhe dizia a carta pelo telefone... Este truque
funcionava todas as vezes.

Como Costello ou o mago faziam isso? Era um trambique simples.
Costello tinha cinqüenta e dois "magos" espalhados por todo o país.
Cada um era responsável por uma carta em particular. Costello
memorizava o mago e seu número de telefone para todas as cinqüentas e
duas cartas do monte. Quando o trouxa escolhia uma carta, Costello
simplesmente lhe dava o nome do mago responsável pela carta em
questão. Toda vez que aquela pessoa recebia um telefonema de alguém
pedindo um mago, ela sabia qual era a carta que devia identificar.

Os truques de Satanás são bem mais sofisticados do que isso, contudo
não deixam de ser truques. Seu ilusionismo pode exceder o de Houdini,
mas de maneira alguma se aproxima do poder miraculoso de Deus, que
sozinho pode tirar algo do nada e a vida da morte.

Os agentes de Satanás perderam a disputa com Moisés e Arão. Eles
foram derrotados por Elias no monte Carmelo. E eles não foram páreo
para Cristo no deserto ou durante seu ministério na terra. Satanás
buscou induzir Jesus a usar seu verdadeiro poder miraculoso a serviço
de Satanás, um poder que Satanás cobiçava. Simão, o mágico, buscou em
vão comprar o poder do Espírito Santo (At 8.9).

A providência de Deus é servida pelo poder de Deus. Os milagres são
parte do governo soberano de Deus sobre a criação e sobre a história.
Sua Palavra é soberanamente autenticada por aquele poder que ele não
está disposto a conceder aos poderes das trevas. Os truques de
Satanás são expostos pela Palavra, cuja verdade foi confirmada e
comprovada pelo testemunho miraculoso de Deus.

A Igreja atual enfrenta uma grave ameaça daqueles que querem
reivindicar o poder e a autoridade apostólicos. Neste aspecto, o
cristão deve estar sempre vigilante e fugir daqueles que têm tais
pretensões.

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Fonte: Extraído de A Mão Invisível - Todas as Coisas Realmente
Cooperam para o Bem?, R.C. Sproul. 1ª Edição, Editora Bompastor,
2001. São Paulo, SP. 237-262.