sábado, 3 de outubro de 2009

O Culto Doméstico


O Culto Doméstico

Brian Schwertley

Numa época em que a família cristã é hostilizada pela cultura moderna e quando a maioria das igrejas evangélicas há muito abandonou as devoções domésticas, seria bom considerarmos a necessidade, importância e prática do dever bíblico da adoração familiar. A Confissão de Fé de Westminster diz: “Deus deve ser adorado em todo o lugar, em espírito e verdade — tanto em famílias diariamente e em secreto, estando cada um sozinho, como também mais solenemente em assembléias públicas, que não devem ser descuidadas, nem voluntariamente desprezadas nem abandonadas, sempre que Deus, pela sua providência, proporciona ocasião” (21:6).

Antes de examinarmos os elementos da adoração familiar, é necessário primeiro dar razões bíblicas pelas quais esta prática é um dever cristão. Dado o fato de que em nosso século o culto doméstico tem sido extremamente negligenciado e substituído por grupos de jovens e pela escola bíblica dominical, é necessário um exame da autorização divina para esta prática esquecida. Há várias razões bíblicas para que o culto doméstico seja praticado em cada família cristã:

1. O pai, sendo cabeça da família da aliança, é responsável por liderar, ensinar, dar exemplo e comandar sua família no caminho do Senhor. “Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te” (Dt. 6:6-7). “Lembra-te dos dias da antiguidade, atenta para os anos de gerações e gerações; pergunta a teu pai, e ele te informará, aos teus anciões, e eles to dirão… Aplicai o coração a todas as palavras que, hoje, testifico entre vós, para que ordeneis a vossos filhos que cuidem de cumprir todas as palavras desta lei” (Dt. 32:7,46). “Escutai, povo meu, a minha lei; prestai ouvidos às palavras da minha boca. Abrirei os lábios em parábolas e publicarei enigmas dos tempos antigos. O que ouvimos e aprendemos, o que nos contaram nossos pais, não o encobriremos a seus filhos; contaremos à vindoura geração os louvores do Senhor, e o seu poder, e as maravilhas que fez. Ele estabeleceu um testemunho em Jacó, e instituiu uma lei em Israel, e ordenou a nossos pais que os transmitissem a seus filhos, a fim de que a nova geração os conhecesse, filhos que ainda hão de nascer se levantassem e por sua vez os referissem aos seus descendentes; para que pusessem em Deus a sua confiança e não se esquecessem dos feitos de Deus, mas lhe observassem os mandamentos; e que não fossem, como seus pais, geração obstinada e rebelde, geração de coração inconstante, e cujo espírito não foi fiel a Deus”. (Sl. 78:1-8). “E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor” (Ef. 6:4; cf. Pv. 4:1-4). Essas passagens não mencionam especificamente o culto doméstico. Contudo, a condução da devoção doméstica pelo pai é um aspecto ou parte desses comandos ou princípios gerais. (Princípios e exemplos mais específicos serão considerados em breve).

2. Há uma série de exemplos históricos na bíblia em que homens piedosos cuidadosamente mantiveram a religião familiar. Depois que chamou Abraão de sua terra natal, Deus prometeu a terra de Canaã a seus descendentes (Gn. 12:7; 13:14-17; 14:18-21). Quando Deus fez uma aliança com Abraão, ela incluía seu lar e descendência (Gn. 17:7-8). Abraão como cabeça da família da aliança aplicou o sinal do pacto (a circuncisão) não só em si mesmo como em todos de sua casa, incluindo os bebês (Gn. 17:10-14). Por que Deus estabeleceu um relacionamento de aliança com Abraão? Uma razão principal foi que Abraão instruiria sua família na piedade. “Porque eu o escolhi para que ordene a seus filhos e a sua casa depois dele, a fim de que guardem o caminho do SENHOR e pratiquem a justiça e o juízo; para que o Senhor faça vir sobre Abraão o que tem falado a seu respeito” (Gn. 18:19). “Ora, Deus considerava Abraão como Seu amigo íntimo, não somente para desfrute do próprio Abraão, mas, como Ele especificamente disse, para que aquilo fosse transmitido à posteridade. De fato, isto deveria ser repassado como uma séria exigência (yetsawweh = “ele pode pôr ordem”) para seus próprios filhos e toda a sua casa”. Calvino escreve: “O significado óbvio da passagem é que Abraão é aprovado por Deus porque pode fielmente cumprir o ofício de bom líder do lar, instruindo sua própria família”.

O SENHOR tem uma grande preocupação com a fidelidade da geração da aliança. Essa fidelidade não se alcança de maneira meramente externa, mas vêm pela instrução fiel da família. Deus coloca Abraão, e por implicação todo cabeça da família, no rol dos profetas. Eles devem ensinar “retidão e justiça” à sua casa. O líder da aliança deve instruir na “justiça que vem da fé” como também na obediência à lei da palavra de Deus como fruto da fé salvadora. “Que Deus pela Sua providência incline minha família, e pela sua graça incline as afeições de todos em meu lar, de acordo com sua vontade, para seu próprio louvor. Que eu e os meus sejamos única, completa, e eternamente dEle.”

Tanto Isaque como Jacó seguiram o piedoso exemplo de Abraão. Eles, assim como Abraão, construíram um altar ao Senhor no lugar onde firmaram suas tendas; um altar, à época, era um utensílio necessário à adoração divina. Isto aparece repetidamente na pequena história que temos destes patriarcas, particularmente em Gênesis 26:25; 28:18, e 33:20”. Estes homens piedosos do passado adoraram ao Senhor Jesus Cristo como lares da aliança através de tipos cerimoniais e sombras. Nós que temos mais luz, que vemos a obra perfeita e completa de Cristo devemos adorar ao Salvador em e com nossas famílias.

O culto familiar também foi praticado pelo piedoso Noé. Em Gênesis lemos que Deus fez uma aliança com Noé, sua casa e cada ser vivente (Gn 9:12, 14-15). Assim que Noé e sua família deixaram a arca, ele construiu um altar e ofereceu uma oferta queimada de cada animal limpo (Gn 8:20). Embora por meio da tipologia do sacrifício animal, Noé cultuou ao SENHOR e fixou perante sua família um vislumbre do redentor que viria, Jesus Cristo.

Temos mais informações sobre culto familiar através da vida de Jó. “Decorrido o turno de dias de seus banquetes, chamava Jó a seus filhos e os santificava; levantava-se de madrugada e oferecia holocausto segundo o número de todos eles, pois dizia: Talvez tenham pecado os meus filhos e blasfemado contra Deus em seu coração. Assim o fazia Jó continuamente” (Jó 1:5). Inicialmente vimos que Abraão foi um profeta para sua família, instruindo-a na prática da justiça e da retidão. Aqui encontramos Jó intercedendo por seus filhos; agindo como um sacerdote, orando e oferecendo sacrifícios em favor deles. Matthew Henry escreve: “Jó, como Abraão, tinha um altar para sua família, sobre o qual, nos parece, oferecia sacrifícios diários; mas, nessa ocasião específica, ele oferecia mais sacrifícios do que o normal, e com mais solenidade, de acordo com o número deles, um sacrifício por filho. Os pais devem ser específicos ao se dirigirem a Deus pelos vários membros de sua família. ‘Por esta criança oro, de acordo com seu temperamento, gênio, e condição específica’, sobre a qual as orações, bem como as ações devem sobrevir. Quando esses sacrifícios eram oferecidos (1) ele se levantava cedo, como alguém que cuidasse para que seus filhos não permanecessem muito tempo sob culpa, e como alguém cujo coração e desejo íntimo estavam naquela obra; (2) ele exigia que seus filhos assistissem ao sacrifício, para que pudessem se unir a ele nas orações que oferecia com o sacrifício, para que a visão do animal sacrificado pudesse humilhá-los ainda mais por seus pecados, pelos quais era merecida a morte, e para que a visão da oferta deste sacrifício subindo ao alto pudesse conduzi-los ao Mediador”.

A responsabilidade do pai em conduzir sua família na fé ao SENHOR é exemplificada na vida de Josué. Josué não sustentou uma filosofia de liderança por meio da qual descobriu com o dedo para que lado o vento soprava e seguiu a igreja apóstata. Pelo contrário, ele considerou a lealdade à aliança de Deus com toda a sua família como sua responsabilidade mesmo se toda a nação estivesse rumando para a apostasia. “Agora, pois, temei ao SENHOR e servi-lo com integridade e fidelidade; deitai fora os deuses aos quais serviram vossos pais dalém do Eufrates e no Egito e servi ao SENHOR. Porém, se vos parece mal servir ao SENHOR, escolhei, hoje, a quem sirvais: se aos deuses a quem serviram vossos pais que estavam dalém do Eufrates ou aos deuses dos amorreus em cuja terra habitais. Eu e a minha casa serviremos ao SENHOR” (Js. 24:14-15).

O cabeça da família deve reger como um rei buscando o bem do seu pequeno rebanho. Fidelidade à aliança não é algo que pode ser delegado ao líder da mocidade ou ao professor da escola dominical. O cabeça da aliança não pode sustentar uma religião mista. Quando denominações estão pondo de lado a inerrância bíblica, o nascimento virginal, a ética bíblica e o sofrimento vicário do nosso Senhor, cabeças da família deveriam estar ensinando a verdade aos seus e separando-se da apostasia. Quando denominações reformadas corromperam o culto a Deus com acréscimos humanos e abraçaram o feminismo, os cabeças da aliança deveriam fazer seu trabalho para deter o declínio. Os pais não devem negligenciar os deveres da aliança. Eles têm de garantir a pureza da doutrina, culto e ética em sua própria paróquia — a família. Matthew Henry escreve: “É algo bom quando um homem toma sua própria casa e a converte em igreja, dedicando-a a servir e honrar a Deus, para que ela possa ser Betel, casa de Deus, e não Bete-Avém, casa de vaidade e iniqüidade… Olhem para suas casas como templos para Deus, lugares de adoração, e todas as suas posses como coisas dedicadas, a serem utilizadas para a honra de Deus, e não para vaidade ou profanação”.

A bíblia ensina que os pais (os cabeças do lar) devem considerar a si mesmos como profetas, sacerdotes e reis de sua própria casa. Como profeta eles têm a obrigação de ler a palavra de Deus e instruir sua família a respeito de todo o conselho de Deus. Como sacerdote devem orar com e por suas famílias. Devem interceder diariamente em favor de seu lar. Como rei devem governar e dirigir seus lares para que obedeçam à palavra de Deus. Eles também devem proteger e prover suas famílias. Esses três deveres (profeta, sacerdote e rei) se fundem quando um pai conduz sua família no culto doméstico. “Embora alguns que governem possam ser indiferentes a isto, devem ter a certeza de que Deus irá exigir deles o desempenho destes ofícios. Pois, como argumentou o apóstolo, aquele que não provê sua própria casa de elementos temporais negou a fé e é pior do que um incrédulo; a que grau ainda maior de apostasia deve ter chegado aquele que não tem a menor preocupação em prover o bem-estar espiritual de sua família?”.

Não há campo neutro a respeito desta importante matéria do culto doméstico. Um pai que negligencia este dever, que tem uma família que não adora ao Deus vivo e verdadeiro, deve questionar o caráter de sua própria fé em Cristo. Perceba quais são os tipos de pessoas que irão receber a ira de Deus. O profeta Jeremias diz: “Derrama a tua indignação sobre as nações que não te conhecem e sobre os povos que não invocam o teu nome” (Jr. 10:25). Ninguém se surpreende ao ler que os pagãos que não conhecem ao SENHOR e por isso são idólatras receberão a fúria de Deus. Mas e quanto àqueles que fazem profissão de fé e se unem à igreja visível porém suas famílias não invocam o nome do SENHOR? Se Deus julga os pagãos que não O conhecem, o que fará com aqueles que conhecem Sua palavra e recusam-se a obedecê-la? Calvino escreve: “Invocar é sempre fruto da fé, como é uma evidência da religião; pois aqueles que não clamam por Deus provam, de forma conclusiva, que nunca conheceram coisa alguma da religião”. Há algo mais triste e terrível para um pai que professa a Cristo do que observar seus próprios filhos apostatando porque foram treinados na negligência e esquecimento de Deus em casa? Pai, se você negligencia o mais importante dever familiar agora, você sofrerá depois em um leito de lágrimas e aflição.

3. A responsabilidade do pai de conduzir seu lar no culto doméstico flui também do próprio conceito bíblico de família. Quando o apóstolo Paulo escreveu à igreja em Corinto ele lhes disse que os filhos de crentes são santos (1Co. 7:14). Como filhos de um pai crente eles estão em uma posição consagrada perante o Senhor. O profeta Malaquias disse que uma razão por que Deus instituiu o casamento e a família foi “buscar uma semente piedosa” (2:15). Em outras palavras, Deus quer que seu povo crie filhos piedosos. A bíblia inteira vê as famílias organicamente. Os pactos que foram feitos com os cabeças de famílias se aplicavam à família inteira: bebezinhos, filhos e mesmo escravos (Gn. 9:12ss; 12:3; 17:1-11; Sl. 82:26-29, etc.). Charles Hodge escreve: “Aos olhos de Deus, pais e filhos são um. Aqueles são os representantes autorizados destes; agem por eles; contraem obrigações por eles. Em todos os casos, portanto, quando os pais entram em aliança com Deus, seus filhos acompanham… É desnecessário dizer que crianças não podem fazer contratos ou juramentos. Seus pais podem agir por eles; e não só trazer-lhes uma obrigação, mas assegurar-lhe os benefícios da aliança vicária. Se um homem se unisse à comunidade de Israel, teria garantindo para seus filhos os benefícios da teocracia, a menos que eles os renunciassem de forma voluntária. E assim quando um crente é adotado na aliança da graça, ele traz seus filhos para dentro desta aliança, no sentido que Deus lhes promete, conforme seu próprio tempo, todos os benefícios da redenção, contanto não renunciem voluntariamente aos seus compromissos batismais”. Na bíblia, circuncisão e batismo têm, virtualmente, significado idêntico (Cl. 2:11-12; Rm. 4:11) Assim, não nos surpreendemos ao encontrar no livro de Atos famílias inteiras sendo batizadas e incluídas na igreja visível (At. 10:24ss; 16:14-15, 30-34; 18:8; cf. 1Co. 1:14-16). Isto significa que os filhos de crentes nascem regenerados e automaticamente se tornam cristãos? Não, não é isso. Contudo, isto significa que os pais, especialmente o pai (cabeça da aliança) tem a responsabilidade especial de criar seus filhos na disciplina e admoestação do Senhor (Ef. 6:4). Deus promete a pais fiéis uma herança piedosa. “E os meus eleitos desfrutarão de todo as obras de suas próprias mãos. Não trabalharão em vão, nem terão filhos para a calamidade, porque são a posteridade bendita do SENHOR, e os seus filhos estarão com eles.” (Is. 65:22-23).

Como resultado da visão bíblica da família da aliança, igrejas presbiterianas que crêem na bíblia exigem que os pais publicamente garantam criar seus filhos de acordo com a Escritura. Os pais têm uma aliança de fidelidade para cumprir seus deveres da aliança com seus filhos. Veja o seguinte exemplo: “Você promete instruir seu filho nos princípios da santa religião como revelada nas Escrituras do Antigo e Novo Testamentos, e como sumarizada na Confissão de Fé e Catecismos de nossa Igreja; e promete orar com e por seu filho, ser exemplo de piedade e bondade perante ele, e empreender todos os meios apontados por Deus para criá-lo no temor e na admoestação do Senhor?” Mesmo igrejas batistas implicitamente reconhecem seus deveres quando realizam a cerimônia em que pais cristãos dedicam as crianças — isto é o reconhecimento da aliança sem o sinal da aliança. Tudo isto aponta para o dever e a necessidade do culto doméstico. Será que pais crentes podem ser fiéis aos votos da aliança tomados no batismo de seus filhos se não oram, louvam e estudam a palavra de Deus com eles? Obviamente, a resposta é não. Pais, vocês sabem que a coisa mais preciosa que Deus lhes deu foi seus filhos. Portanto, amem, nutram e instruam seus filhos diariamente. Não negligenciem o culto doméstico. Coloque-o no topo das prioridades de sua casa.


O que fazer no culto doméstico

O culto doméstico deve ser uma atividade simples consistindo de três elementos básicos: leitura bíblica e instrução, oração e cântico de louvor. A medida que consideramos brevemente essas três áreas, tenha em mente os seguintes princípios: Primeiro, é muito importante que o culto doméstico seja conduzido de forma regular. Portanto, é sábio fixar um tempo específico para a família inteira se encontrar diariamente; isto deve ser mantido exceto somente em razão de uma grande emergência. Fixar o tempo do culto doméstico e torná-lo um evento diário inegociável irá eliminar a tentação de pular dias ou deixá-lo para depois por causa de várias desculpas (e.g., doença, cansaço, eventos esportivos, programas de TV, filmes, etc.). Sermões e livros antigos sobre religião familiar ensinam que o culto doméstico deve ser feito duas vezes por dia. Tal ensino é baseado em passagens que falam de orações matutinas e noturnas (e.g., Sl. 92:1-2; 141:2). Dado o fato de que tais passagens falam diretamente a respeito do culto privado, os pais devem se comprometer com a adoração, no mínimo, diária.

Segundo, o pai (ou no caso de alguém que é sozinho a cabeça da família da aliança) é responsável por conduzir a devoção familiar. Este dever não deve ser delegado à esposa, ou ao irmão mais velho ou a um empregado da casa. A esposa e as crianças devem ser ensinadas e dirigidas pelo cabeça do lar da aliança. O pai é o profeta, sacerdote e rei da família. Ele deve ler as Escrituras, fazer perguntas, ensinar a doutrina e conduzir a oração.

Terceiro, o culto doméstico deve ser simples, prazeroso, e não excessivamente longo ou formal. Não somos gnósticos ou ascetas. A adoração familiar deve ser algo que a família aguarde ansiosamente; assim, não precisa ser uma maratona teológica. Quinze ou vinte minutos por dia deve ser suficiente para leitura, discussão e oração. As famílias que transformam suas devoções em uma tarefa prolongada e complexa freqüentemente se desgastam e acabam abandonando a adoração completamente. É muito melhor ser conciso e consistente do que excessivo e inconstante.


Os elementos básicos

1. Os pais devem ler as Escrituras para suas famílias. O conhecimento da palavra de Deus é necessário para a salvação, fé e vida. A bíblia é a base para a ética e a razão. Ela é a luz que guia nosso caminho (Sl. 119:105). As sagradas Escrituras são aptas para tornar uma criança sábia para a salvação (2Tm. 3:15). Devemos buscar as Escrituras diariamente para aprender e provar a doutrina (Atos 17:11), pois a palavra de Deus é a própria verdade (Jo 17:17). Ela é nosso guia para um modo de agir que santifica nossos corações e vidas (Jo. 17:17). Jesus disse: “Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo. 8:31-32). A palavra de Deus deve estar em nossos corações e deve ser diligentemente ensinada a nossos filhos (Dt. 6:6-7). Tudo que necessitamos crer e tudo que necessitamos fazer está dentro destas páginas. “É melhor estar sem pão em nossas casas do que sem bíblias, pois as palavras da boca de Deus são e devem ser mais necessárias a nós do que comida”. J. W. Alexander escreve: “A leitura diária da santa palavra de Deus, por um pai perante seus filhos, é uma das mais poderosas atitudes da vida cristã. Nós somos propensos a subestimar esta ação. Ela é um gotejar contínuo, mas que deixa sua marca na pedra. Uma família assim treinada não pode ser ignorante da Palavra. A bíblia inteira vem repetidamente à mente… Nada na educação dos jovens é mais importante.”

E como a bíblia deve ser lida para as crianças? Há várias coisas que devem ser lembradas considerando esse dever crucial. Primeiro, a bíblia deve ser lida com autoridade e solenidade, pois é a própria palavra de Deus. Tal leitura instila na criança um respeito e santa reverência pelas Escrituras. Eles aprendem que a Bíblia não é apenas outro livro antigo; ou somente outro livro para se estudar, mas que é verdadeiramente ímpar. Somente ela tem autoridade absoluta. Somente ela merece uma confiança e obediência irrestritas.

Segundo, a bíblia deve ser lida de maneira que a criança foque a atenção na leitura. Isto significa que os pais devem ler as Escrituras com um certo amor, vibração e fervor. Se um pai demonstra fadiga e lentidão em sua leitura as crianças irão perceber isto. Por meio de um exemplo tão apático o pai está implicitamente ensinando a seus filhos que a Bíblia é um livro seco e enfadonho. Nossos filhos devem perceber nosso amor, alegria e entusiasmo pela palavra de Deus através de nossa leitura. Além disso, o pai deve freqüentemente parar e fazer perguntas a seus filhos a respeito da Escritura lida. As perguntas têm funções importantes: (1) Elas forçam as crianças a prestar atenção ao que está sendo lido de forma que não fiquem distraídas e falhem em aprender a seção da Escritura. (2) Elas também permitem que o pai enfatize doutrinas importantes e faça aplicações em cada passagem (e.g., “João, por que Paulo disse que ninguém pode ser salvo guardando a lei?” ou, “Susana, por que Jesus Cristo sofreu e morreu na cruz?”). Lembre-se, o pai é o profeta da família: lendo as Escrituras, reprovando pecados, enfatizando doutrinas, fazendo aplicações, vigiando contra erro e imoralidade. Não é de surpreender que um pai que é diligente e aplica-se ao culto familiar torna-se, em razão disto, um pai melhor.

Terceiro, o pai deve focar na qualidade e não na quantidade. Em outras palavras, uma leitura curta (e.g., um capítulo) com perguntas e comentários é melhor do que uma longa leitura sem atenção ou aplicação. Não esqueça, o culto doméstico deve ser conciso, objetivo e regular. Leituras muito longas sem análise podem conduzir à distração e inquietação em crianças pequenas.

Finalmente, a bíblia deve ser lida na sua inteireza, do princípio ao fim, para se ter todo o conselho de Deus. “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.” (2Tm. 3: 16-17).2. Os pais devem orar com suas famílias. Como sacerdote da família o pai deve se aproximar do trono da graça e interceder por si mesmo, por sua esposa e filhos. “As famílias têm muitas incumbências para apresentar ao trono da graça, o que as provê com assunto e ocasiona diariamente oração familiar; tais incumbências não podem ser feitas tão bem em secreto ou em público, mas são mais proveitosas se forem desempenhadas pela família separadamente, aparte de outras famílias”. É principalmente através da oração familiar que as crianças menores aprendem a importância de orar e a metodologia bíblica da oração. Na oração a família inteira vai a Deus através de Jesus como um corpo da aliança dedicado à causa de Cristo e da verdade.

Há várias coisas importantes que devem ser parte da oração familiar. Primeiro, as famílias devem reconhecer a total dependência de Deus e sua providência. Em oração, honramos a Deus e glorificamos a Ele por Suas infinitas perfeições. Reconhecemos a soberania de Deus e o reinado mediatorial de Cristo. Cristo é o dono e mestre desta família. Nós reconhecemos nossa dependência dEle para salvação e todas as boas dádivas.

Segundo, as famílias devem confessar seus pecados a Deus. Na bíblia os chefes da casa são considerados de forma orgânica. Quando um membro cai em maldição e pecado isto pode afetar a todos. Há numerosos exemplos da iniqüidade de cabeças da aliança trazendo desgraça sobre toda a família (e..g., Açã, Js. 7:19-26; Baasa, 1Rs. 16:3-4, 12; Acabe, 1Rs. 21:21). Há até mesmo os pecados de filhos que trazem calamidade sobre uma família inteira (e.g., os filhos de Eli, 1Sm. 3:13-14). As famílias devem vir juntas e confessar seus pecados diários por pensamento, palavra e ação. “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1Jo. 1:9). Devemos fortalecer nossas mãos na santidade, arrependimento sincero e confissão de culpa perante Deus. “Como é triste a condição das famílias que pecam juntas, e nunca oram juntas!” Os membros da família freqüentemente dizem e fazem coisas uns para com os outros que são contrárias à palavra de Deus. Uma confissão diária irá reconciliar a família com Deus e entre si. Ela irá incutir nas crianças a seriedade do pecado e a grande necessidade de arrependimento contínuo. Whitifield escreve: “Não há uma família que não tenha que dar graças pelas bênçãos das quais têm sido participantes, e algumas aflições e cruzes em comum que todas elas lastimam e lamentam. Mas é difícil conceber como isto pode ser feito sem unir-se em um ato comum de humilhação, súplica, e ação de graças”.

Terceiro, as famílias devem agradecer a Deus por todas as bênçãos da vida, especialmente a salvação conquistada por Jesus Cristo. Todas bênçãos da vida — o alimento que comemos, a roupa que vestimos, os carros que dirigimos, mesmo o ar que respiramos — vêm da mão beneficente do SENHOR. Não devemos continuamente dar graças a Ele por estas grandes dádivas? Ele também não nos protege continuamente do mal, da calamidade e de nossa própria tolice (cf. Jó 1:10; Is. 4:5)? O grande presente de toda a nossa família é o próprio Jesus Cristo. Deus nos escolheu nEle e nos uniu em Sua vida, morte e ressurreição. Deus regenerou nossos corações nos permitindo crer em Cristo. Por causa dEle somos famílias cristãs. Jesus teve misericórdia de nosso lar. O Emanuel vive conosco. “Naquele tempo, diz o SENHOR, serei o Deus de todas as tribos de Israel, e elas serão meu povo” (Jr. 31:1).

Quarto, as famílias devem orar a Deus por suas necessidades físicas e espirituais. Jesus nos instrui a orar por nosso pão diário (Mt. 6:11). Como famílias podemos nos unir para pedir prosperidade física, não para vivermos vidas mundanas e negligenciar nossos deveres religiosos, mas, para que possamos como famílias servir melhor a Cristo e expandir Seu reino. Se devemos orar por nosso pão diário, então quanto mais por santificação, mortificação do pecado e libertação do mal. Como famílias devemos orar: “não nos deixes cair em tentação” (Mt 6:13). Os líderes do lar freqüentemente sofrem das mesmas fraquezas e tentações. Os filhos com freqüência imitam os maus hábitos e as tendências pecaminosas de seus pais. As famílias devem identificar os problemas, hábitos pecaminosos e tentações comuns e orar juntos, como um lar, por livramento e santificação.

Quinto, as famílias devem orar pelo bem-estar de outros. Elas devem orar por toda sorte de homens. Há parentes, amigos e conhecidos que precisam ser salvos. Há crentes que estão sofrendo sob várias provações (doença, injúria, problemas financeiros, etc.). Há cristãos apostatando que necessitam despertar para sua condição e se arrepender. Há vários missionários por quem se pode interceder em família. Há conflitos e problemas civis e denominacionais que devem ser colocados perante o trono da graça. Há crentes que estão sofrendo severa perseguição longe, mundo afora, nas mãos de tiranos. “Os benefícios da oração vão longe, pois aquele que ouve a oração pode estender sua mão de poder e misericórdia até ao mais extremo da terra, e àqueles que estão distantes no mar.” “Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranqüila e mansa, com toda piedade e respeito. Isto é bom e aceitável a Deus, nosso Salvador, o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade.” (1Tm. 2:1-4).

3. Os pais devem conduzir suas famílias no cântico de louvor. “Habite, ricamente em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, hinos, e cânticos espirituais, com gratidão em vosso coração” (Cl. 3:16). O cântico de um ou dois salmos a Deus é uma resposta apropriada à leitura da Escritura e oração. Fazendo assim a família glorifica a Deus e se admoesta mutuamente. Samuel Davies escreve: “O louvor da família é um dever porque a ação de graças freqüentemente acompanha a oração na Escritura; Filipenses 4:5; Colossenses 4:2; 1Tessalonicenses 5:17-18; e a salmodia deve ser considerada o método mais apropriado de expressar gratidão como parte do culto divino. ‘Nas tendas do justo há voz de salvação e júbilo’, Salmo 118:15 — uma expressão que muito propriamente significa louvar a Deus nos salmos, e hinos, e cânticos espirituais, como nos é ordenado, Colossenses 3:16”.


Conclusão

Pai, considere o importante dever que Deus colocou em suas mãos: criar uma semente piedosa. Considere seus preciosos filhos da aliança; imprima neles as grandes verdades do cristianismo bíblico enquanto são jovens e maleáveis. Ensine-os a honrar a Deus com seus corações, mentes, lábios e mãos desde a mais tenra idade. Considere seus filhos como bênçãos de Deus, feitos para servir ao Senhor. Eles devem levar a bandeira de Cristo adiante, à geração seguinte. Faça seu trabalho diligentemente para que quando você estiver louvando a Cristo no céu seus filhos estejam servindo e louvando a Deus na terra.

Enquanto é verdade que somente Deus pode dar graça à alma, é também verdade que Ele usa meios secundários — o ensino da palavra de Deus — para dar a soma do conhecimento salvífico ao eleito. Pai, considere sua dor e miséria se por descuido e negligência seus filhos aprenderem a trilha do mundo ao invés do caminho do Senhor. Se você cumpre suas obrigações da aliança amando, ensinando, exortando, admoestando, encorajando e alertando seus filhos para confiar em Cristo e obedecer a Sua lei então você fez sua parte e com paz de espírito pode confortavelmente deixar seus filhos nas mãos de Deus. Pais fiéis à aliança podem descansar nas promessas de Deus. Que Deus nos permita sermos fiéis a nossos deveres do pacto para que Cristo possa ser glorificado em nossos filhos.


Tradução: Márcio Santana Sobrinho

Fonte: The Christian Family. Chapter 6: Family Worship.

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