sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Gnomos e Duendes


Gnomos e Duendes

Na carta que escreveu aos crentes de Roma (1:18-25), o apóstolo Paulo descreve o estado da humanidade alienada de Deus e indiferente ao seu amor com as seguintes palavras:

“Portanto, a ira de Deus é revelada dos céus contra toda impiedade e injustiça dos homens que suprimem a verdade pela injustiça, pois o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Pois desde a criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina, têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas, de forma que tais homens são indesculpáveis; porque, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe rederam graças, mas os seus pensamentos tornaram-se fúteis e o coração insensato deles obscureceu-se. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos e trocaram a glória do Deus imortal por imagens feitas segundo a semelhança do homem mortal, bem como de pássaros, quadrúpedes e répteis. Por isso Deus os entregou à impureza sexual, segundo os desejos pecaminosos do seu coração, para a degradação do seu corpo entre si. Trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram a coisas e seres criados, em lugar do Criador, que é bendito pra sempre. Amém.”

Embora o apóstolo estivesse descrevendo a situação da sociedade dos seus dias e ao seu redor, suas palavras se encaixam muito bem naquilo que crêem e o que fazem muitos atualmente.

A prova disso foi a febre esotérica que tomou conta de grande parte da sociedade nos anos que precederam a virada do último milênio. Todos os tipos de crenças e superstições encontraram guarida em quase todos os segmentos da vida moderna. Passou-se a crer em tudo: pirâmides, cristais, florais de Bach, fadas, cromoterapia, Gnomos, Duendes, Elfos e Delfos, anjos cabalísticos, e muito, muito mais. Parece que a lista não tem fim.

Esperava-se que após o ano 2000, a onda do misticismo arrefecesse. Tal coisa ainda não aconteceu. Estão aí os livros e o filme de Harry Potter para mostrar que o ser humano da era científica e do avanço tecnológico continua fascinado pela magia e superstição. Recentemente, um jornal de São Paulo publicou uma reportagem sobre Vila Madalena, classificando-a como o bairro mais esotérico da cidade. Num artigo intitulado O lado oculto da Vila Madalena, o jornal informa

O lado oculto da Vila se revela aos olhos de qualquer um que circule pelo bairro durante o dia. Há várias lojas de penduricalhos para casa, cursos de danças étnicas, remédios alternativos, massagens que prometem dar um trato em auras e chakras, magos que interpretam mapas astrais, lêem as mãos e até mesmo os pés. Tudo mais real do que fadas ou duendes, mesmo porque o oculto custa reais. Para os mais céticos, toques, banhos e perfumes que transportam ao paraíso

De acordo com jornal, os proprietários das lojas esotéricas contam com o astral como o maior aliado. O artigo acrescenta:

Para acabar com a solidão, bastam cinco gotinhas de flor de laranjeira, mais cinco de sândalo e outras de ylang-ylang, uma essência da ilha de Madagascar. Com essa porção, que custa aproximadamente R$ 25, é possível atrair qualquer objeto do desejo. Pelo menos é o que prometem as vendedoras da Aromagia, loja de óleos essenciais da Rua Girassol (em mais um endereço apropriado). Para ver se o destino conspira a favor, uma consulta aos Carlos do Instituto de terapias Vibracionais. As perguntas podem ser feitas aos astros, às mãos, em consultas por volta de R$ 100. Tem cursos também para quem também quer ganhar dinheiro com a ajuda do oculto. Em torno de R$ 360. Se nada disso ajudar, o jeito é apelar para os santos.

Quem são os gnomos?

Em meio à diversidade de crenças, práticas e entidades esotéricas, os gnomos serão o foco deste artigo. Para alguns autores de livros e revistas que promovem tais entidades, gnomos e duendes são a mesma coisa. Para outros, a diferença está na função que desempenham. Os gnomos são protetores do reino mineral, presentes nas pedras e rochas, tendo aspecto de velhinhos que inspiram sabedoria e amor. Os duendes são protetores do reino vegetal, presentes em florestas, jardins e plantas, sendo jovens e travessos.

Esses seres invisíveis da natureza continuam notórios. Há alguns anos atrás, São Paulo e várias outras cidades também foram invadidas por um adesivo colado nos vidros de milhares de carros, que dizia: “Eu acredito em Duende”.

A crença nos duendes e gnomos foi mais difundida ainda com um filme da Xuxa, a rainha dos baixinhos da Rede Globo. Com o título de Xuxa e os Duendes, parte do roteiro teve por base suas experiências pessoais, pois Xuxa afirma que vê Duendes. Assim, ela passa a ser também a rainha dos Duendes.

Segundo informa a revista Chiques e Famosos, o filme foi produzido por Xuxa Produções e Diler Trindade & Associados. Xuxa e os Duendes foi orçado em 3 milhões e 800 mil reais. É o filme mais caro que ela já fez. O retorno esperado é de 10 milhões de reais. Mas Xuxa quer mais, como informa a revista:

Mas nem só das bilheterias virão os lucros para engordar ainda mais o cofrinho de Xuxa. De olho no retorno que podem proporcionar os seres mágicos que serviram de tema para o filme, ela também está lançando uma série de produtos com apelo místico, além de fantasias, esmaltes, batons, copos e sorvetes inspirados nos duendes.

Numa página da Internet que promove o filme da Xuxa, encontra-se a seguinte definição de Duendes:

Os duendes são criaturinhas mágicas, espertas, travessas e muito inteligentes. Eles são espíritos da natureza e podem viver até mil anos, mas não aparentam a idade que têm. Eles trabalham muito para proteger as florestas e os animais e por isso o melhor lugar para encontrá-los é embaixo das árvores ou das plantas.

A obra mais completa encontrada sobre os assim chamados elementais da natureza tem por título Gnomos, publicada pela Editora Siciliano. Trata-se de um trabalho rico de detalhes e ilustrações, num colorido muito bem feito. Infelizmente, o livro não tem numeração de páginas. Entretanto, dali foram extraídas muitas informações.

De acordo com esse livro, os gnomos surgiram em torno do ano 1200 d.C., quando o sueco Frederik Ugarph encontrou uma estátua de madeira na casa de um pescador na cidade de Nidaros (atualmente Trondheim), Noruega. A estátua de 15 cm de altura, sem contar o pedestal, trazia gravadas as seguintes palavras: NISSE Rktig Stfrrelse que significa: “Gnomo, estatura real”. O livro diz ainda:

A estátua estava em poder do pescador há muitos anos e Ugarph só conseguiu comprá-la depois de muitas negociações. A estátua pertence agora à coleção da família Oliv, em Upsala. Exames radiográficos vieram a comprovar que a estátua tem mais de 2000 anos… Segundo consta, a inscrição no pedestal foi feita muitos séculos após a estátua ter sido esculpida. A descoberta dessa estátua serve para ilustrar aquilo que os gnomos sempre afirmaram: que suas origens são escandinavas.

O livro informa que existem seis espécies de gnomos: o gnomo da floresta, o gnomo do deserto, o gnomo do jardim, o gnomo doméstico, o gnomo da fazenda e o gnomo siberiano. O livro informa a estatura e o peso dos gnomos da floresta: 15 cm sem o chapéu. Papai gnomo pesa 300 gramas e mamãe gnomo pesa de 250 a 275 gramas.

Quanto à constituição física dos gnomos maiores, há muitas informações interessantes: são sete vezes mais fortes do que o homem, o coração é relativamente grande (equivale ao de um cavalo de corridas). Geralmente vivem até 400 anos de idade. Alguns conseguem atingir a idade de 500 anos. A capacidade do cérebro do gnomo é maior do que a do homem. O gnomo é capaz de segurar a urina por um dia inteiro. O gnomo, assim como os animais, “enxerga” a maior parte do seu mundo pelo nariz. A transmissão do cheiro ao cérebro ocorre da mesma forma que a do cachorro e da raposa.

As informações sobre os gnomos são muitas e variadas: a aparência, suas roupas, a vida em família, os diferentes tipos de gnomos, suas lendas, suas casas, alimentação, lazer, música, atividades principais, o relacionamento com a fauna e a flora em geral. Não há espaço suficiente neste artigo para tratar com mais detalhes sobre entidades tão intrigantes e controvertidas.

Duendes, gnomos e a Bíblia

Diferente da crença nos duendes e gnomos ou qualquer outro tipo de superstição, a fé cristã, embora transcenda a razão, não é irracional. Ela faz sentido, pois o coração não deve se alegrar com aquilo que a mente não entende a contento. A pessoa que abraça o cristianismo não precisa aposentar a cabeça. Ela deve continuar pensando e usando o senso crítico.

A Bíblia é um livro que pode ser analisado objetivamente. Sua autenticidade tem sido constatada pela análise histórica, geográfica, literária e arqueológica. Alguém até já disse que “toda vez que os arqueólogos abrem um buraco no Oriente, é mais um ateu sepultado no Ocidente”. Escrita durante um período de mais de 1500 anos por mais de 40 autores, sendo que a maioria deles não esteve junta, ela trata de diversos assuntos, pessoas e datas, revelando uma linguagem progressiva e harmoniosa.

A quantidade de manuscritos da Bíblia existentes hoje facilitam uma verificação objetiva satisfatória, fortalecendo a confiabilidade dos textos do Antigo e do Novo Testamento. Josh McDowell, conhecido apologista americano, declara:

Atualmente sabe-se da existência de mais de 5.300 manuscritos gregos do Novo Testamento. Acrescentem-se a esse número mais de 10.000 manuscritos da Vulgata Latina e, teremos hoje mais de 24.000 cópias de porções do Novo Testamento. Nenhum outro documento da História antiga chega perto desses números e dessa confirmação. Em comparação, a Ilíada de Homero, vem em segundo lugar, com apenas 643 manuscritos que sobreviveram até hoje.

R.C. Sproul, renomado teólogo americano acrescenta:

“A área da investigação histórica, mais que qualquer outra, nos tem dado motivos para encararmos com otimismo a questão da confiabilidade das Escrituras… Descobertas levadas a efeito no século XX, como as de Ugarite, Cumrã e Ebla, foram muito úteis no sentido de aprofundar nosso conhecimento da antigüidade. As lâminas Nuzi e Amarna resolveram inúmeros problemas do Velho Testamento. A obra de Ramsey, investigando as viagens de Paulo como registradas por Lucas, comprovou de tal forma a exatidão de Lucas como historiador, que os historiógrafos seculares modernos o chamaram de melhor historiador da antigüidade. Os historiadores bíblicos suportaram melhor o escrutínio e a crítica do que outros dos tempos antigos, como Josefo e Herótodo.”

Por que crer em duendes e gnomos?

Talvez, um dos fatores que determinam toda essa corrida atrás de duendes e gnomos, e outras crenças ligadas ao esoterismo seja o contexto social em que vive a sociedade brasileira. Grande parte dela já fez a sua escolha. Vai continuar acreditando em lendas, em fábulas, na astrologia, na reencarnação, Florais de Bach, pirâmides, cristais, mesmo que não haja comprovação científica para tais coisas ou evidências de que elas realmente funcionam.

O Brasil é um país obcecado com o sobrenatural e qualquer coisa que se prega nas igrejas ou fora delas está fadada ao sucesso. Como as pessoas gostam de crer, não importa em quê!

Há uma onda de frustração em toda parte. O homem moderno está frustrado com tanta guerra, tanta violência, terrorismo, injustiças, modelos de governo que não dão certo – e isso o leva a buscar ajuda em qualquer lugar. Parece uma geração de náufragos dispostos a agarrar-se em qualquer coisa como se fosse uma tábua de salvação.

Na sua busca por uma saída, o homem moderno parece não estar preocupado com o senso de certo e errado, demonstrando possuir um escasso discernimento entre verdade e mentira. Muitas vezes, os mesmos executivos que não dispensam as verdades científicas para desenvolver programas de informática, para trabalhar com as leis da física, e para fazer pesquisas na área da genética, quando chegam em casa, estão dispostos a sentar-se debaixo de uma pirâmide para receber suas energias ou ir ao jardim para encontrar o seu gnomo. Mesmo sem qualquer verdade verificável sobre todas essas superstições, ele continua disposto a crer. Logo, o homem moderno é extremamente capaz quanto ao conhecimento científico e extremamente ingênuo quanto aos valores espirituais.

Uma outra razão pode ser a própria crise existencial que domina grande parte da sociedade atual. O homem moderno é caracterizado pelo vazio espiritual. E isso deve ser visto do ponto de vista da teologia. O ser humano foi feito para Deus e nunca vai viver feliz fora dele. Assim, o homem moderno, na ansiedade de preencher o vazio produzido pela ausência ou ignorância do Criador, estará receptivo a quase tudo: vícios, velocidade, poder, dinheiro, sexo, superstições, gurus. Nesse momento, verdade e bom senso pouco importam.

Existe também, à luz da Palavra de Deus, uma dimensão espiritual. A salvação acontece quando Deus, pelo Espírito Santo revela Jesus Cristo em nós, como afirmou Paulo numa de suas epístolas: “Mas Deus me separou desde o ventre materno e me chamou por sua graça. Quando lhe agradou revelar o seu Filho em mim para que eu o anunciasse entre os gentios…” (Gálatas 1:15, 16). Se isso não acontece, Paulo explica o motivo: “O deus desta era cegou o entendimento dos descrentes, para não vejam a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus” (II Coríntios 4:4).

Considerações finais

Os duendes e gnomos não podem salvar ou reconciliar o ser humano com Deus. De acordo com as Escrituras, somente Jesus pode fazê-lo: “Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo” (Romanos 5:1). Jesus é o único caminho para Deus. Foi ele mesmo quem disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai a não ser por mim” (João 14:6). O apóstolo Pedro também confirmou isso ao declarar: “Não há salvação em nenhum outro, pois, debaixo do céu não há nenhum outro nome dado aos homens pelo qual devamos ser salvos” (Atos 4:12).

Não é de hoje que o ser humano escolhe viver alienado de Deus. Muitos vão até além, chegando a trocar a verdade de Deus pela mentira, adorando e servindo a coisas e seres criados, em lugar do Criador, que é bendito para sempre. Amem. (Romanos 1:25). Jeremias, um dos profetas de Deus no Antigo Testamento, já havia constatado essa triste realidade nos seus dias, ao escrever: “O meu povo cometeu dois crimes: eles me abandonaram, a mim, a fonte de água viva; e cavaram as suas próprias cisternas, cisternas rachadas que não retêm água” (Jeremias 2:13). “Somente Jesus tem as palavras de vida eterna” (João 6:68).

Dr. Paulo Romeiro

Jornal da Tarde, SP Variedades, 16 de novembro de 2001, p. 1C

www.caminhocristao.com/2007/03/gnomos-e-duendes/

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