domingo, 8 de janeiro de 2012

Teologia Negra?! (ou "Onde nascem os discursos equivocados")


Teologia Negra?! (ou "Onde nascem os discursos equivocados")


Por seus frutos os conhecereis. Porventura, colhem-se uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? Mt 7:16

Nas aulas de fonética do CLM, íamos ao quadro para desenhar o aparelho fonador humano e escrever o nome de cada uma das suas partes. Ao finalizarmos aqueles desenhos, a professora os olhava com um ar muito meigo e alguns de nós terminávamos ouvindo dela: "Está bonitinho, mas totalmente errado!".Pensava comigo: como algo poderia estar "bonitinho", mas totalmente errado? Descobri com o passar dos anos que há muitas coisas "bonitinhas" nos púlpitos de muitas igrejas e escritas em muitos artigos e livros do meio evangélico, mas profunda e perigosamente equivocadas.

Pensando no que disse acima, pergunto-me o que deve surgir na mente dos leitores diante de uma expressão como "teologia negra". Se teologia é o resultado confessional de nossa cosmovisão (segundo Rev. Ewerton Barcelos Tokashiki), deduz-se que toda teologia é um discurso sobre a divindade, sobre Deus, mas sempre como fruto de uma sistematização construída a partir de determinados pressupostos. Mas quais pressupostos?

Pressupostos podem se revelar teístas, deístas, marxistas, antropocêntricos, humanistas, animistas, etc. Daí, ao ouvir sobre uma “teologia negra”, imagina-se haver um discurso negro sobre Deus construído sobre pressupostos raciais? Seria isso? Sendo assim, haverá tantos discursos sobre Deus quanto há etnias e outros grupos sociais no mundo que então sedimentariam teologias negras, brancas, amarelas, vermelhas e - por que não? - gays, pobres, ricas,feministas também? Entretanto, seriam todos esses discursos válidos?Estariam todos esses grupos discursando sobre o mesmo conteúdo?Duvido. O que decorre é que o espaço à Teologia Gay deveria ser o mesmo dado a uma Teologia Negra ou a uma Teologia Feminista. Obviamente, haver uma Teologia Negra implica na existência de outras teologias disputando espaço seja numa feira de ideias seja numa lutade ideologias, ou pior, de raças!

Ora, no areópago pós-moderno todos os discursos são válidos, todos são “politicamente corretos”, todos são cobertos pelo verniz do apresentável, do “bonitinho”, ainda que possam ser retóricas perigosamente equivocadas.

O que seria umaTeologia Negra? Se não é outra coisa senão a própria teologia cristã, então por que ser negra? É um novo discurso sobre um Deus negro? Ou o discurso de um teólogo negro sobre Deus? Ou seria a Teologia Negra o discurso de Deus sobre os negros? Sendo isto, é uma teologia desnecessária, visto que Deus fala a todos e acerca de todos independente se somos negros, brancos, indígenas, gays, heterossexuais e até mesmo flamenguistas! Sendo um novo discurso sobre adivindade, equipara-se, como já disse, a tantas outras teologias que não necessariamente são cristãs – são apenas geiseritas sedimentadas à margem da fonte da água viva a jorrar, que é o verdadeiro Evangelho de Jesus Cristo.

Mais uma vez ainda, o que seria uma Teologia Negra? Pode-se crer que seja uma teologia em oposição ou diferente a uma Teologia Branca? E esta existe? Se, por exemplo, a teologia branca for a teologia dePipper, Washer, Spurgeon, Calvino, Lutero, Wycllif, Agostinho, Atanásio, seria a teologia negra uma oposição a eles (ou diferente deles)? Julgava que a teologia cristã fosse tão somente supracultural, suprarracial, supragênero, supraeconômico, mas não é o que parece ao lermos o texto de GercymarWellington Lima e Silva (Ultimato online de 18/11/2008), que cita que o melhor exemplo de referência imediata da negritude brasileira é o candomblé!
Ora, é esdrúxulo usar o espaço de uma revista cristã evangélica para discorrer sobre teologia negra e citar que o ponto máximo da cultura negra no Brasil é o candomblé e, ainda,pensar que, como cristãos, deveríamos apoiar as tais “políticas de ação afirmativa” que incentivam um sistema religioso (o candomblé) que produziu grandes teólogos e líderes espirituais de envergadura como... Como... Como quem mesmo?

Os adeptos do Candomblé,da Umbanda e outras quaisquer manifestações religiosas têm toda liberdade de participarem de seus cultos e de promoverem os mesmos como bem entenderem. O que não se pode apoiar é que o dinheiro do povo de Deus seja usado para promover uma cultura anticristã, como já tem sido usado para promover mudança de sexo no SUS, promoverkit-sodomia nas escolas públicas, e as cotas da desigualdade nas Universidades, entre tantas outras bizarrices federais financiadas com dinheiro de nossos impostos (dinheiro que declaramos ter sido dado a nós por Deus!). Tudo isto sob a desculpa da laicidade do Estado.

Deus tem uma interpretação sobre nós, sobre nossa natureza e nossas responsabilidades coletivas e individuais, já escrevi sobre isso no artigo "Deus é pobre?!". O mundo precisacompreender que não é a sua interpretação sobre a divindade ocerne da questão, mas a interpretação de Deus acerca de cada um denós. Esta, sim, é a teologia fundamental e cristã diante da qual devemos tremer e temer. Quando destruirmosas grades teóricas com as quais nos prendemos e passarmos tãosomente a viver o Evangelho puro e simples, surgirão maistestemunhos maravilhosos de transformação cultural como o narradono ótimo artigo “Receitaafro-brasileira: uma boa alternativa para igreja” (EdiçãoNovembro-dezembro/2008) de SílviaNassif Del Lama: um ótimo exemplo de uma igreja que não serende ao contexto em que está inserida, mas o transforma aplicando“sermões, publicações, teatro, aconselhamento e programas deoração”. Uma Igreja que simplesmente crê que o Evangelho é opoder de Deus e não discursos humanos!


Teologia Negra... Teologia Gay... Teologia Feminista... O vão escuso dos discursos criados pelo perigo de palavras que, além de informações, estão carregadas de ideologias e bandeiras partidárias. Discursos que pregam mais descontinuidade do que estabelecem pontes entre pecadores e a redenção encontrada nas Sagradas Escrituras. Enfim, discursos bonitinhos, mas, exatamente por causa dos pressupostos que os deu à luz, revelam-se perigosamente equivocados.

texto escrito por RôMoreira e publicado
em http://mulheresabias.blogspot.com

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