sábado, 20 de junho de 2009

SANTO SEXO


SANTO SEXO

Pr. Walter Santos Baptista

"Que o marido cumpra os seus deveres a mulher e, do mesmo modo, a mulher para com o marido. Não é a mulher que é dona do seu próprio corpo, mas sim o marido. De igual modo, não é o marido que é dono do seu próprio corpo, mas sim o marido. Não se privem um do outro, a não ser de comum acordo e para se dedicarem durante algum tempo à oração. Depois, voltem outra vez à vossa vida conjugal, para que Satanás vos não faça cair na tentação, por não se saberem dominar" (1Co 7.3-5)

São necessidades básicas do ser humano entre outras: alimentar-se quando tiver fome, beber quando tiver sede, ar quando a respiração fica difícil, descansar quando fatigado, dormir quando com sono, abrigar-se do frio ou do calor, livrar-se da dor, fugir quando for ameaçado e satisfazer o instinto sexual.

Tem-se criado uma verdadeira arte para se satisfazer a fome: a gastronomia; sofisticam-se os anestésicos para o alívio da dor; que se dirá dos confortos térmicos? E com respeito à sexualidade, que se diz? Que ensino é repassado acerca deste fato?

Escapa à imaginação o que já se pensou e ensinou sobre esse tema. Graciano, monge italiano que viveu no final do século 11, pregava que o Espírito Santo saía do quarto quando o casal praticava o ato sexual.

Quanto à abstinência do sexo, era ensinado:

Abstinência nos dias santos;
E em certos dias úteis, como:
Na quinta-feira porque Jesus fora preso numa quinta-feira;
Em respeito à crucificação, não se podia ter relações nas sextas-feiras;
Não no sábado, porque tradicionalmente é o dia dedicado a Virgem Maria;
Naturalmente, no domingo também não seria possível, porque Jesus ressuscitou num domingo;
Nem na segunda-feira em respeito aos falecidos.
Sobravam a terça e a quarta-feiras.
A Reforma Protestante do século 16 desenvolveu uma Teologia da Sexualidade, observando que o homem e a mulher têm necessidades de ordem sexual a nível físico, emocional e espiritual. A ignorância, a desinformação e a má orientação das idéias, no entanto, foram tamanhas que em algumas comunidades cristãs havia senhoras idosas que eram verdadeiras "evangelistas da frigidez", visitando as noivas antes do casamento para informá-las acerca do que se chamava "os fatos da vida", bem como que o ato sexual era do casamento a parte mais desagradável e detestável. Entretanto, diziam, todas as esposas tinham que se conformar com tal situação. Com esse tipo de iniciação, que moça poderia esperar alegria na vida conjugal?





OS QUATRO AMORES

Os gregos têm uma variedade de palavras para o que traduzimos como "amor": Philia, Storge, Eros e Agape.


Philia é o amor social, amor de amigo, de afinidade, patriótico, cívico. É a necessidade de compartilhar algo com alguém. Envolve afeição, e é o que chamamos "amizade".


Storge é o amor familiar, amor natural de pai para os filhos, do tio para o sobrinho, e vice-versa. Envolve reciprocidade e homogeneidade.


Eros é o amor biológico, físico, sensorial, hormonal, visceral, sensual. É o amor que é atraído pelo charme, beleza, elegância, graça, delicadeza, pelas formas. É boa palavra e define bem o aspecto das diferenças sexuais. O Eros atrai o homem para a mulher e a mulher para o homem. Fora disso é perversão: homem + homem, mulher + mulher, desvios que recebem o nome dehomossexualismo; adulto + criança é pederastia ou pedofilia; ser humano + animal tem o nome de bestialismo. Todas essas perversões encontram reprovação na Escritura Sagrada: Levítico 18.22,23; 20.13,15,16. Eros é o instinto sexual. Paulo apresenta os reclamos do Eros em 1Coríntios 7.2-5 e 1Tessalonicenses 4.3-8.


Agape é o amor que pode salvar o eros da perversão porque o transforma e dá ao amor humano e biológico sua verdadeira dimensão no santo sexo. É o amor como o de Deus, o amor-que-se-dá, o amor-sacrifício, o amor-entrega, o amor eterno, imutável e perfeito. Está nos lábios de Jesus em João 3.16; Paulo o cita em Romanos 5.5; 1 Coríntios 13; e João, o Evangelista, o menciona em 1João 4.16,18. Jesus Cristo é o supremo exemplo de agape, entrega total para a salvação da esposa que é a Sua Igreja (cf. Ef 5.25-33).


Já dá para entender que a soma Storge + Agape é a fórmula ideal para o amor paterno, materno, fraternal, filial e familiar.


E Eros + Ágape, por sua vez, é a receita perfeita para o santo sexo, o casamento do cristão.





UMA TEOLOGIA DA SEXUALIDADE


Uma coisa é o que os médicos, os sexólogos, os psicólogos, os psicanalistas e os terapeutas de casal pensam do sexo. Outra é o que Deus pensa (cf. Gn 1.31).


Muita gente não diz que o corpo veio do Diabo, mas acha que o sexo é mau, sujo e indigno dos filhos de Deus. Olha o exemplo do monge Graciano... Realmente, a sexualidade nunca foi suja e mundana na visão da Bíblia (cf. Ec 9.9). No projeto do reino de Deus, o sexo é expressão da vontade do Pai Celeste.


Gênesis 1.27,28 mostra indivíduos perfeitos, sadios, criados à imagem de Deus, e seus corpos incluem a sexualidade e a capacidade de se reproduzirem, bem como a ordem direta para fazê-lo. De fato, sendo cada ser humano uma imagem criadora, um reflexo do Deus Criador, apresenta no sexo bem praticado, no santo sexo, esse dom de um Deus que ama, cria, recria e faz criar. Os crentes em Jesus Cristo, aliás, devemos ser os mais inteligentes, melhores e mais criativos amantes porque, por trás de tudo os outros seres humanos têm, temos a unção do Agape de Deus.


Pois é; em Gênesis 1.31 "viu Deus que tudo era bom", mas o produto final no seu teste de qualidade deu como resultado"Aprovado! Muito Bom!", porque a masculinidade e a feminilidade são ótimas!


Gênesis 2.24,25 mencionam a expressão "uma só carne" (basar no hebraico; sarx no grego). Entre outros sentidos, basar é a totalidade da pessoa humana (cf. Sl 16.9); sarx é o "corpo" como em 2Coríntios 12.7; Filipenses 1.24 e Gálatas 4.13,14. "Uma só carne" é, assim, união de corpos e de naturezas daqueles que formam o casal.


O ato sexual não é só uma função biológica, é, igualmente, de fundo espiritual (1Coríntios 6.16). Une-se o soma (corpo), com asarx (o mais humano em nós). Por esse motivo, o adúltero peca contra o ser-que-se-forma-no-casamento (1Co 6.18) e viola o seu destino que é glorificar a Deus (vv. 20; cf. v. 13).


Na realidade, a Escritura exalta a felicidade sexual (cf. Pv 5.15-19; Ec 9.7,9; Ct 6.6-12). É o erotismo no contexto do santo sexo, do casamento dos filhos de Deus. 1Coríntios 7.2-5 é, sem dúvida, a mais clara passagem sobre o assunto. Dela, três idéias podem ser extraídas:

Os santos têm necessidades sexuais idênticas e definidas. Sexo não é prerrogativa do homem, sendo a sua parceira apenas submissa, passiva , acomodada e silenciosa. Isso viola a natureza, pois, ao contrário do que muitos podem pensar, 1Coríntios 7.3a faz a esposa valer seus direitos.
A responsabilidade do marido é satisfazer as necessidades emocionais, sexuais e espirituais da sua santa esposa, e vice-versa. É uma experiência solidária.
A satisfação das necessidades sexuais dos santos não entra em conflito com a piedade da vida espiritual. Pelo contrário, vida sexual equilibrada é boa mordomia. Paulo fala, mesmo, em oração no seu comentário sobre esse importante tema (cf. v.5).
É recomendável e altamente conveniente ver com os olhos do outro, pensar com a cabeça do outro. O marido precisa entender o que se passa no coração, cabeça e corpo da sua mulher quanto ao sexo, e ela, por seu lado, necessita compreender que significado tem o sexo para seu esposo. Mulheres que se queixam de que os maridos só pensam em sexo, muitas vezes espelham problemas como a não apreciação das relações, ou a não compreensão das necessidades de seu santo, ou, ainda, a preocupação mais com elas mesmas que com o bem-estar do casal.


Vamos entender: o ato sexual é importante porque satisfaz o instinto do marido. Deus o colocou em nós, portanto pecado não pode ser. O instinto sexual no homem é constante, o que significa que ele não precisa de muito estímulo para ficar preparado.


É importante porque satisfaz o senso de feminilidade da esposa. Nos primeiros dias de casada apresenta-se a insegurança, mas agora isso passou, o ritmo da vida, inclusive o sexual, já é normal ou relativamente normal. Mas é preciso entender o coração da mulher que quer ser amada, vista e sentida como mulher. De fato, as mulheres mais frustradas do mundo são as que abafam sua feminilidade, o que não pode acontecer com uma santa filha de Deus. Uma esposa vai além de mãe e dona de casa: é parceira sexual do marido. Se o ato conjugal não for bom para ela, será muito difícil ter sucesso como mãe e dona de casa.


É importante o ato sexual para o marido porque faz aumentar o amor pela esposa, reduz as tensões no lar e proporciona uma experiência emocional sem par.


Para sua esposa dá segurança quanto ao amor do companheiro: amor de companhia, de compaixão e de romance.


E ainda: satisfaz o instinto sexual da santa, que é diferente do instinto sexual do homem. A imagem do fogão a gás e do fogão a lenha para descrever a prontidão do homem e da mulher para o sexo é corriqueira porém verdadeira: a lenha (às vezes verde) demora a pegar fogo, mas quando queima...


Sexo e reprodução foram ordenados por Deus, e nada têm de pecaminoso (cf. Gn 1.28). Mas o ato sexual tem se tornado um martírio, um tormento para algumas pessoas. Por quê? Ora, o casamento (e o conseqüente ato sexual) são aprovados pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo. O Pai o estabelece em Gênesis 1.28; o Filho dele fala em Mateus 19.5, e o Espírito Santo pela inspiração de Hebreus 13.4, texto que fala com extrema clareza do santo sexo, pois que a palavra "leito" que nele aparece é em grego koite, da mesma raiz da palavra latina coitus, descritiva do ato sexual.


A Bíblia condena, no entanto, o abuso sexual, chamando-o de "fornicação" (sexo entre solteiros) e "adultério" (sexo pago). Deus criou a sexualidade e colocou os instintos em nós, não para nossa tortura, mas para a satisfação do casal em santo sexo e senso de realização. Como é significativo o uso da palavra "conhecer" ( yada em hebraico) para designar o ato sexual (cf. Gn 4.1; Mt 1.25). O ato sexual é o conhecimento mais íntimo que se pode ter de uma pessoa. Mas é um ato santo, reservado, por ser conhecimento sagrado, pessoal, íntimo. O Cântico dos Cânticos é incrivelmente franco sobre o assunto (cf. 2.3-17; 4.1-7).


Provérbios 5.18 fala de prazer total, e não só para reprodução. Por outro lado, Deus não planejou um sexo pervertido, barateado, comercializado com vem acontecendo em outros arraiais. Deus planejou um santo sexo que fica bom com o tempo, com o casal mais amadurecido no amor e nas artes amorosas.





DIFICULDADES SEXUAIS


Conflitos sexuais são criados por mil e duas razões. Reservamo-nos algumas poucas:

Problemas no namoro e no noivado trazidos para o casamento. Os antigos já diziam que "o que começa errado termina errado".
Conflitos na lua-de-mel. Ou será na "lua-de-fel"? Uma senhora que teve péssima experiência na lua-de-mel com um marido vinte anos mais velho dizia que "o casamento é a legalização do estupro".
Traumas de infância. A esposa evita carícias, tem horror até em pensar, o ato sexual é um martírio. Aliás, convém lembrar que ninguém está só, mas talvez seja necessário buscar ajuda profissional de um médico ou terapeuta de casal.
Sexo sem amor O amor é uma atitude mental, e o sexo é uma entre muitas expressões dessa atitude mental. Sexo sem amor equivale a uma vida de miséria.
Falha em bem aproveitar os jogos amorosos. É falta de sabedoria não preparar a esposa para o ato conseqüente.
Coisas de que um não gosta no outro. Idéias, hábitos, sentimentos de competição. E quando o marido chega, e encontra em vez da esposa, um espantalho? Rolinhos no cabelo, desarrumada pensando que com isso sensibiliza o marido? Pouca higiene, falta de asseio adequado. Cuidado com os odores, meus santos! Uma coisa é o cheiro do corpo masculino ou feminino estimulantes das funções sexuais, outra é cheiro de suor e mau hálito. Dentro de certos parâmetros o odor pode ser um estimulante sexual, qualquer sexólogo ou terapeuta o reconhece e pode informar.
Conflitos em outras áreas: diferença acentuada de idade ou de nível acadêmico; comparações com a mãe, com o pai, com o irmão, etc.
Pense mais em qualidade que em quantidade de relações sexuais; pense em integralidade do sexo, e, sobretudo, que o amor é uma extraordinária fonte de poder nas adversidades e dificuldades da vida.


Sem receio de ser mal-compreendido, a experiência do ato sexual, do santo sexo discreto, reservado e exclusivo, pode ser comparada à da oração em Mateus 6.6:

"Entra no teu quarto, fecha a porta..." Resultado: "...te recompensará".

Nenhum comentário: