sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Temor e outras paixões


Temor e outras paixões
do iPródigo

James Meikle (1730-1799)

O texto a seguir é um trecho da obra devocional Solitude Sweetened, de James Meikle. O livro é uma compilação de meditações que o autor produziu durante um período em alto mar, em meio à guerra. Vale a pena ler a obra desse desconhecido puritano e levar em consideração suas súplicas e alertas.

Quatro coisas eu devo temer
Deus, eu mesmo, a tentação e o pecado.

Devo temer a Deus por sua grandeza; meu eu, por sua enfermidade; a tentação, por seu perigo; e o pecado por sua contaminação. Devo temer a Deus com amor; a mim mesmo com cautela; ao pecado com ódio; e à tentação com determinação. O temor a Deus vai tirar o temor do homem; o temor a mim mesmo irá moderar o amor próprio; o temor ao pecado alertará contra o pecado; e o temor à tentação será um antídoto contra a tentação. O meu temor a Deus deve ser com constante alegria; de mim mesmo, com constante tremor; do pecado com constante cautela; e da tentação com constante vigilância.

O primeiro é minha realização; o segundo, meu dever; o terceiro, minha sabedoria; e o quarto, minha prudência.

O temor ao pecado sumirá quando me aperfeiçoar em santidade e passar para a glória; o temor a mim mesmo cessará quando o meu eu for deixado de lado e Deus for tudo em todos; o temor à tentação, quando Satanás for pisado pelos meus pés. Mas o temor de Deus durará para sempre, somente o medo é removido quando o amor se aperfeiçoa e lança fora o medo; (pois o temor dos santos, lutando, com um corpo de pecado e morte, é atormentado nisto); mas não há tormento de medo nas hostes angelicais, que, com o mais profundo respeito e reverência diante do trono, cobrem o rosto com as suas asas. Vejo, então, que o amor, acompanhado do temor que lança fora o tormento do terror, habitará em cada seio glorificado.

Muitas coisas deveriam ser objeto do meu mais ardente desejo
Como: o enfraquecimento do reino de Satanás, a queda do Anticristo romano e da ilusão muçulmana, a conversão dos judeus, a propagação do evangelho e do conhecimento de Deus pelo mundo, o crescimento da prática religiosa em cada alma e a precipitação da glória dos últimos dias.

Muitas coisas eu deveria admirar e me maravilhar
Como: o ser e as perfeições de Deus, a unidade na Trindade e a Trindade na unidade, o amor de Deus, a encarnação do Filho, a paixão de Cristo, o valor de seus sofrimentos, os nomes de Emanuel, os ofícios do Redentor, as relações do Deus-homem, o Espírito Santo habitando na alma, a união dos santos ao seu Cabeça, a comunhão das criaturas com Deus, a justificação dos culpados, a santificação do imundo, a glorificação do homem (que não é nada além de um verme), as grandes e preciosas promessas, a excelência da graça, a eficácia da fé, a natureza e a imortalidade da alma, e as glórias do mundo vindouro.

Por muitas coisas eu deveria lamentar
Como: a dureza do meu coração, a minha ignorância de Deus, a minha apatia nos assuntos de sua glória, a prevalência do pecado, a minha falta de amor, a minha prontidão para a vingança, o meu prazer em criar prazeres, mente e língua carnais e o descuido quanto às preocupações do mundo invisível.

E no mundo exterior, deveria lamentar a decadência dos tempos, a corrupção dos costumes, a abundância da iniquidade, o ataque à verdade e o adorno dos templos de erro, o qual, se atacados, clamam, “Grande é a luz da natureza! Grande o poder do livre arbítrio e a excelência da moralidade! Grande é a deusa do universo!” (N.T.: Possível referência ao pensamento deísta, prevalecente entre os intelectuais nesta época)

Muitas coisas eu deveria procurar acima de todas as outras
Como: a glória de Deus mais que todas as outras coisas, sua honra mais do que minha reputação e seu amor mais do que minha própria vida. E deveria lamentar mais os pecados dos outros do que minhas dores e aflições próprias e considerar meus pecados uma carga mais pesada que minhas aflições. Eu deveria estimar mais a promessa da vida eterna que a posse de todas as coisas criadas e a alegria interior mais que a paz exterior.

Eu deveria estimar mais a promessa da vida eterna que a posse de tudo e a alegria interior mais que a paz exterior.

E, finalmente, no centro de tudo…

Muitas coisas devem motivar minha alegria
Como: Deus governa todas as coisas, todas as coisas contribuirão para a sua glória e para o bem de seu povo, a justiça habitará na terra e o pecado será punido, a graça será aperfeiçoada e o amor será soprado em uma chama, quando a vida eterna for parte da alma, e Deus for tudo em todos no céu, onde veremos perfeitamente, a fruição será completa, a comunhão inconcebível e divinamente íntima, o conhecimento pleno, e os santos, (na mais alta perfeição que as criaturas podem alcançar), feitos participantes da natureza divina! Quanta alegria deveria trazer a ciência de que a glória daquele dia, a alvorada da eterna glória, não está muito distante?

Quanta alegria deveria trazer a ciência de que a glória daquele dia, a alvorada da eterna glória, não está distante?


Márcio Melânia
http://lattes.cnpq.br/5648348525008521

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